Pré-candidato ao governo do Paraná nas eleições de 2018, o ex-senador Osmar Dias (PDT) esteve em Brasília hoje (01) para participar do lançamento do Podemos (PODE), legenda criada pelo seu irmão Alvaro Dias, já de olho no Palácio do Planalto. O pedetista, contudo, não deve trocar de partido político, ao menos não agora. Em entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Osmar Dias também negou que tenha conversado sobre aliança com o atual governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Segundo ele, “desavenças” estão “no passado”, mas “creio que o Beto já tem um candidato e é outro”.
Em 2011, após a derrota no pleito que disputou contra o tucano, Osmar Dias assumiu a vice-presidência de Agronegócio do Banco do Brasil. Só saiu do cargo em 2016, na esteira do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Na mesma entrevista, Osmar Dias também falou sobre a ligação com o PT, o impeachment e a aguda crise no Planalto: “O presidente Temer deveria deixar o mandato, que, aliás, não foi conquistado por ele”.
Leia a entrevista completa:
O senhor está se filiando ao Podemos?
Não. Eu vim prestigiar a filiação do Alvaro. E, nesse momento, o motivo da minha presença aqui é dizer que eu acredito nesse projeto do Alvaro.
Isso significa que, mais para frente, o senhor pode também assumir o projeto dele?
O projeto dele eu vou assumir me filiando ou não ao partido dele. Eu tenho compromisso em apoiar o Alvaro em qualquer partido que eu esteja. No momento não tomei nenhuma decisão em relação a mudança de partido.
Agora, o senhor é pré-candidato ao governo do Paraná. Isso é fato ou pode haver alguma mudança?
Meu nome foi colocado à disposição e quem vai decidir isso é a população. Quando você avalia que a população deseja a sua candidatura, você confirma. Se a população tiver outras preferências, eu serei humilde para rever minha posição. Mas, no momento, eu sou pré-candidato.
Com quem o senhor tem conversado sobre a pré-candidatura? Quem está se engajando neste plano com o senhor?
Eu tenho conversado com a população do Paraná.
Mas e as conversas com políticos? Comenta-se que o senhor tem conversado com Beto Richa…
Olha, eu leio de tudo. E eu acredito em pouca coisa que eu leio. A verdade é que, no momento, eu não estou pensando em alianças. Estou pensando em construir um projeto para o Paraná. E eu converso com todos. Com o Alvaro, com o Requião. Já conversei com o Beto. Mas, em nenhum momento, eu falei sobre aliança. Eu só leio nos jornais que eu estou conversando sobre alianças. Mas ninguém me perguntou. Agora você me perguntou, e eu respondo. Não, não conversei com ninguém sobre aliança.
O senhor teve uma disputa bastante acirrada com o Beto Richa no passado [eleições de 2010]. Ainda tem arestas a serem aparadas?
Eu não estou preocupado com o passado. Eu estou preocupado com o futuro do Paraná. Eu não estou voltando para a política para ficar discutindo desavenças passadas. Isso pertence ao passado. E creio que, no momento, me parece que está claro que o candidato do governador do Paraná é outro.
Ratinho?
Eu não falo sobre adversários.
Ele [Beto Richa] não disse isso [apoio a Ratinho] com todas as letras ainda…
E nem vai dizer. É muito cedo. Tem gente que acha que a disputa ao governo estadual é uma corrida de 100 metros. Não é. É uma maratona. Tem muita coisa pela frente, tem muitos obstáculos para saltar. É bom esperar a hora adequada para falar de partido, de aliança.
Que avaliação que o senhor faz desses quase 8 anos de gestão Richa?
Quem precisa fazer essa avaliação é a população, não eu. Eu tenho que dizer para o Paraná o que eu pretendo fazer. Eu disputei o governo do Paraná contra o Beto. Se eu disputei, é porque eu não concordava com o projeto dele.
“Pelo resultado que nós estamos vendo, o impeachment não foi uma boa decisão”
O País está enfrentando uma crise política severa. Que posição o senhor tem sobre a denúncia contra o presidente Temer e os desdobramentos disso?
Se a investigação concluiu que houve culpa do presidente, eu vejo que ele tem poucas possibilidades de permanecer no cargo. Creio que a situação do País é muito grave. O próprio presidente Temer, no meu entendimento, deveria entender que a presença dele, ou a permanência dele no governo, tem causado muitos danos à economia do País. Creio que seria um momento de grandeza da parte dele se ele deixasse esse mandato de presidente, que, aliás, não foi conquistado por ele.
O senhor ainda tem contato e permanece ligado a grupos do PT, que inclusive o levaram ao Banco do Brasil?
Não. Eu não tenho mantido contato, inclusive porque eu nunca pertenci ao PT, há uma confusão das pessoas…
Houve uma aliança.
Eu tive uma aliança sim com o PT, em 2010, apoiando um projeto. Tem gente que nega o passado, eu não nego. Mas eu não apoiei todos esses desmandos que ocorreram após a conquista do poder. O projeto que eu apoiava a maioria apoiou também, tanto que a Dilma ganhou a eleição duas vezes.
O senhor era contra o impeachment, correto?
Como eu estava no Banco do Brasil, ocupando um cargo técnico, eu não podia me posicionar. O estatuto do Banco do Brasil é rigoroso em relação à participação na política. Até fui muito mal compreendido nesse período… Quando você age corretamente, tem gente que não entende. Eu estava seguindo o estatuto. Não era uma omissão.
Hoje, a distância disso tudo, como o senhor vê o impeachment de Dilma Rousseff?
Pelo resultado que nós estamos vendo, não foi uma boa decisão, porque o País piorou. A gente não pode ficar trocando de presidente todo dia. A democracia exige outro tipo de postura. Quando alguém ganha a eleição, tem um mandato a cumprir. Se não há motivos graves, não pode se optar pelo impeachment diante de qualquer circunstância. Veja, o que provocou o impeachment da Dilma foi o não pagamento da equalização do crédito rural. Mas os governos anteriores também não pagaram. O governo FHC não pagou. O governo Lula não pagou.
A oposição, na época, falava de impeachment pelo “conjunto da obra”.
Se fosse pelo conjunto da obra, teríamos motivo agora também, né?
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