“Quantas vezes nós, os cidadãos quaisquer, por telefone, brincamos, fazemos comentários, que dizem respeito só à nossa intimidade, e que, se tornados públicos, viram verdadeiras catástrofes familiares, catástrofes sociais? E, envolvendo pessoas públicas, catástrofes públicas. Com comoção fortíssima e irreversível. Não temos nós mais direito a privacidade? Estaremos nós no mundo do big brother, preconizado por George Orwell, onde sequer ao telefone pode se conversar reservadamente?”.
O argumento é do advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, levado aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira (31), dentro da Reclamação 23.457, na qual aponta, entre outras coisas, ilegalidade na decisão do juiz federal Sergio Moro que permitiu a divulgação das conversas do ex-presidente Lula com pessoas que detêm foro privilegiado, como a presidente da República, Dilma Rousseff. No julgamento da liminar, Cardozo obteve vitória.
Quando era ministro da Justiça, Cardozo já era considerado um importante porta-voz da petista, especialmente quando temas espinhosos batiam diretamente no Palácio do Planalto – e nos últimos tempos surgiram dezenas. Cardozo reage rápido – foi o primeiro a convocar a imprensa após a divulgação de partes da delação do senador Delcídio do Amaral – e costuma fazer declarações veementes.
Agora, à frente da AGU, Cardozo permanece como braço-direito da presidente Dilma. Ele foi escalado, por exemplo, para fazer a defesa oral da petista na tarde de hoje (04), na comissão especial do impeachment, onde falará de pedaladas fiscais e decretos de créditos suplementares. Lá, ele deve encontrar questionamentos da oposição inclusive sobre sua própria função. Opositores entendem que a AGU tem a atribuição de defender o governo federal, e não a pessoa da presidente Dilma, que é o alvo do processo de impeachment. Cardozo também deve falar sobre isso.
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