No âmbito da Operação Carne Fraca, um depoimento em especial chamou a atenção (assista trecho logo abaixo). O veterinário Flávio Cassou, de 64 anos, disse que havia uma espécie de esquema de pagamento de mesadas a políticos do PMDB do Paraná e citou o nome do deputado federal Sérgio Souza. Cassou trabalhava em uma unidade paranaense (na Lapa) da Seara Alimentos Ltda, ligada à JBS. Os repasses de dinheiro, segundo Cassou, fariam parte de um acordo entre um diretor da JBS chamado Sérgio Sampaio e o ex-superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná Daniel Gonçalves Filho, que tenta homologar um acordo de colaboração premiada, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Cassou disse conhecer o esquema somente através de Daniel Gonçalves Filho, que atuou como superintendente do Mapa no Paraná entre julho de 2007 e fevereiro de 2014, e também entre setembro de 2015 e abril de 2016. “Eu nem conheço o Sérgio Sampaio. Eu sei [do esquema de mesadas] porque o Daniel me contou”, pontuou.
De acordo com o veterinário, era ele quem entregava para o superintendente do Mapa no Paraná os envelopes “que chegavam”. A partir daí, caberia a Daniel Gonçalves Filho fazer a distribuição do dinheiro: “Eram R$ 20 mil por mês”. Ele nega, contudo, que tenha visto algum parlamentar efetivamente recebendo o dinheiro. “Daniel era sustentado politicamente pelo PMDB do Paraná”, resumiu.
O depoimento de Cassou foi prestado no último dia 1º dentro de uma das sete ações penais relacionadas à Operação Carne Fraca, deflagrada em março. Ele falou por quase 3 horas ao juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara de Curitiba. No processo, Cassou é acusado de corrupção.
Outras 13 pessoas também respondem por crimes no mesmo processo, incluindo Daniel Gonçalves Filho e o zootecnista Ronaldo Sousa Troncha, que é ex-chefe de gabinete do deputado federal Sérgio Souza. Troncha não responde ao crime de corrupção – ele foi denunciado por violação de sigilo funcional.
No primeiro semestre de 2016, o então assessor parlamentar teria utilizado a senha de Daniel Gonçalves Filho, fornecida pelo próprio ex-superintendente no Paraná, para acessar um sistema eletrônico do Mapa. Ainda de acordo com a denúncia, Troncha teria feito “consultas variadas” no sistema eletrônico, “acerca de processos administrativos de inúmeras empresas”.
OUTRO LADO
A Gazeta do Povo entrou em contato com a JBS, mas a empresa respondeu apenas que “não vai comentar”.
O deputado federal Sérgio Souza, em nota, afirma que “as informações passadas por este cidadão [Flávio Cassou] são totalmente falsas”. “Nunca mantive contato com nenhum executivo da JBS. Também nunca recebi nenhum valor desse senhor, nem mesmo doação de campanha da JBS”, acrescenta.
A Gazeta do Povo não conseguiu contato com a defesa de Troncha, ex-assessor do parlamentar do Paraná.
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