Não tem jeito. Dentro da numerosa bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, quase nunca há unanimidade. A confirmação do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) na cadeira de ministro da Justiça e da Segurança Pública, ontem (23), não foi diferente.
Peemedebistas descontentes reagiram imediatamente ao saber da indicação do paranaense, levado para o presidente Temer pelo líder do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP).
O deputado federal Fábio Ramalho (MG), o “Fabinho”, que derrotou Serraglio na disputa pela primeira vice-presidência da Câmara, no início do mês, foi o primeiro a reclamar. Anunciou até rompimento pessoal com o governo Temer. Fabinho queria um nome de Minas Gerais, Estado desprestigiado na Esplanada dos Ministérios, segundo ele.
O segundo peemedebista insatisfeito a correr para os holofotes foi o deputado federal Lúcio Vieira Lima (BA). Segundo o irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, Serraglio não tem peso político suficiente para representar a legenda. “O ministro Osmar terá que provar ao presidente Temer que será capaz de dar os votos do PMDB para aprovar as reformas”, declarou à imprensa.
Embora fiel ao governo Temer e à cúpula nacional do partido, Serraglio sempre teve uma atuação independente na Câmara. Raramente participava das costuras de bastidores. De certa forma, pertence mais à bancada ruralista do que à bancada do PMDB, propriamente.
O comportamento mudou em parte ao longo do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Serraglio foi defensor aguerrido do fim do governo petista e, por isso, se uniu à ala peemedebista comandada por Eduardo Cunha. Foi neste contexto, inclusive, que o paranaense obteve força para assumir o principal colegiado da Câmara, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em maio do ano passado. Com o término do processo de impeachment, a “turma de Cunha” se desmantelou.
No último dia de janeiro, Serraglio nem foi à reunião da bancada do PMDB para definir qual seria o nome do partido para disputar a primeira vice-presidência da Câmara. O paranaense sabia que não tinha chances. No dia seguinte, resolveu concorrer do mesmo jeito, a despeito da escolha oficial do partido, Lúcio Vieira Lima. No fim das contas, Serraglio foi para o segundo turno com Fabinho, também inscrito como “candidato avulso”, ou seja, sem apoio formal do próprio partido. Lúcio ficou apenas em terceiro lugar.
O desempenho do paranaense chamou atenção. Com apoio da bancada ruralista e ainda com a fama de outrora, como relator da CPI dos Correios, Serraglio conseguiu 204 votos, 61 a menos do que Fabinho. Com a desastrosa indicação do nome do deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) para a cadeira de ministro da Justiça, Serraglio passou a ser imediatamente cotado. Na visão de Baleia Rossi, os mais de 200 votos obtidos naquela eleição revelam que Serraglio tem densidade no plenário.
Além disso, apostou Rossi, o lastro jurídico também ajuda. Embora tenha uma trajetória política ligada ao agronegócio, o paranaense é formado em Direito, já foi professor, e também aluno de Michel Temer, no mestrado que fez em São Paulo, início da década de 80.
Pressionado a escolher um nome do PMDB, Michel Temer cedeu ao perfil “técnico e político” de Serraglio. Rossi só não conseguiu, ainda, convencer toda a bancada.
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