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Deputada federal Christiane Yared (PR-PR). Foto: Luis Macedo / Arquivo Câmara dos Deputados
Deputada federal Christiane Yared (PR-PR). Foto: Luis Macedo / Arquivo Câmara dos Deputados| Foto:

“Filha rebelde” da base aliada, já que é contra as reformas trabalhista e previdenciária pretendidas pelo Planalto, a deputada federal Christiane Yared (PR-PR) entrou na lista de parlamentares que passaram hoje (04) pelo gabinete do presidente da República, Michel Temer. A paranaense nega, contudo, que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista tenha entrado na conversa, que começou às 11h30 e só foi terminar uma hora depois. Segundo ela, que mantém o voto a favor da abertura do processo contra o presidente Temer, a conversa serviu para amadurecer a ideia de instalação de uma unidade da Rede Sarah no Paraná. “Promessa de campanha eleitoral”, lembra a paranaense, que anda de olho no Senado. Ao sair do gabinete do peemedebista, Yared concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ainda no Palácio do Planalto. Leia os principais trechos:

Quem convocou a audiência? A senhora ou o presidente Temer?

Eu havia pedido uma reunião há 20 dias. Temos a preocupação de tentar levar um núcleo avançado do [Hospital] Sarah para Curitiba, ou ali para São José dos Pinhais, que seria o ideal, por causa da mobilidade do aeroporto. O Sul do País não tem um hospital deste porte. E nós precisamos porque hoje nós temos um sequelado a cada minuto no trânsito e uma morte a cada 10 minutos. O que ocorre? Estrangula a saúde pública. O Sarah é especializado em neurologia e ortopedia. Precisamos exatamente disso para desafogar os nossos hospitais. Porque são pessoas que estão saudáveis, sofrem acidentes, e acabam ocupando leitos de outros.

Tem dinheiro para isso hoje?

Eu disse para o presidente Temer que eu sei das dificuldades que o País enfrenta. Mas, se nós conseguirmos mudar a realidade do trânsito brasileiro, nós vamos ter recursos. Porque o País gastou, em 2015, 56 bilhões de reais com tragédias de trânsito. Em 2016, 86 bilhões de reais.

Uma alternativa, e aí foi uma sugestão dele, é salvar o Hospital Evangélico e colocar lá no Evangélico o núcleo avançado do Sarah. Seria um benefício para o Paraná todo. O Estado inteiro utiliza o Evangélico.

Mas isso ainda precisaria ser negociado com o Evangélico, correto?

Eu já estive conversando e eles teriam interesse… Obviamente teríamos que adaptar o hospital. Mas, não havendo essa possibilidade, nós levaríamos o núcleo avançado para São José dos Pinhais, onde eu já conversei com lideranças, que poderiam providenciar o terreno. E daí não é tão caro quanto um hospital. Um núcleo avançado seria feito com um orçamento mais enxuto.

Agora, a crise política não contamina esse tipo de agenda, propositiva? Eu imagino, inclusive, que o presidente Temer tenha conversado com a senhora sobre a denúncia contra ele.

Não. Ele simplesmente não tocou no assunto. Na verdade, por 57 minutos, fui eu que falei [risos]. Você sabe que eu falo bastante. Ele foi extremamente educado. Em momento algum, tocou no assunto. Do meu ponto de vista, a audiência foi espetacular. Porque foi uma conversa que eu pretendia ter já com a presidente Dilma, mas ela não me atendeu na época. [O núcleo avançado do Sarah] É uma promessa de campanha. E o presidente Temer imediatamente ligou para o ministro da Saúde [Ricardo Barros], conversou com ele, sugerindo, inclusive, que desse um jeito para que o orçamento acomodasse o núcleo avançado do Sarah para o Paraná, pela necessidade que nós temos.

A audiência da senhora acabou entrando na “maratona” de conversas do presidente Temer com parlamentares, e no momento ele trabalha para derrubar a denúncia [na Câmara dos Deputados]… A senhora não interpreta a boa vontade dele com o assunto [do Sarah] como um “toma-lá-dá-cá”?

Não, eu não vejo desta forma. Quando eu estive com a direção do Sarah, me falaram que apenas conseguiríamos levar um núcleo avançado para o Paraná se o presidente da República autorizar. Isso na primeira conversa com eles, há dois anos e meio.

É que me chama a atenção o fato de o presidente Temer estar tão engajado na questão da denúncia contra ele, e receber a senhora neste momento…

As pessoas pensam isso. Mas eu não posso ser leviana em dizer que me foi oferecida alguma coisa. É mentira. Não foi me oferecido nada. Absolutamente nada. A única coisa que ele fez foi me ouvir. E ele me ouviu com muita atenção.

Eu não quero estar aqui representando 200 mil votos e ser manipulada

Pelo que a senhora já declarou publicamente, seu voto é a favor da denúncia contra o presidente Temer. Por quê?

Exatamente como eu fiz com a presidente Dilma. Não somos nós que vamos dizer se eles são culpados ou inocentes. Então, que se permita que a Justiça investigue. Se você é inocente, acalme seu coração. Porque pode ter a minha verdade, a sua verdade, mas a Justiça é para trazer a verdade.

O partido da senhora, o PR, que pertence à base aliada, a procurou para tratar desse assunto [da denúncia]?

Não, de maneira nenhuma. Até agora ninguém me procurou. Eu tenho minhas posições, o partido sabe. Até, às vezes, as pessoas falam que eu sou rebelde, mas não é isso. Eu não sou rebelde não. Eu analiso, converso. Quero ter consciência plena. Eu não quero estar aqui representando 200 mil votos e ser manipulada. Eu não vim para cá para isso.

O assunto [da denúncia] está dominando a pauta da Câmara dos Deputados…

Com certeza. Infelizmente, o País está paralisado. Mesmo que nós troquemos todos os atores desta história, a máquina é a mesma. A máquina continua corrompendo. O sistema é que precisa ser mudado. Então nós precisamos de uma reforma política ampla, inteligente.

Na reforma política, se discute a lista fechada [sistema no qual cabe ao partido político definir seus candidatos, oferecendo uma lista fechada ao eleitor]. A senhora, que frequentemente tem posições divergentes em relação à cúpula do seu próprio partido político, mas que, por outro lado, foi a mais votada [dentro da bancada do Paraná] na última eleição, é a favor ou contra a lista fechada?

Não concordo com a lista fechada. O povo fica excluído. Haveria dificuldade de renovação. Lideranças comunitárias, do bem, pessoas que precisam estar ocupando lugares, teriam grande dificuldade [para se candidatarem]. Não teremos tempo hábil para grandes mudanças, mas elas precisam ocorrer.

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