O Parque Nacional Marinho de Ko Phi Phi, área preservada e com magníficos paredões de rocha| Foto:
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Sob a ótica da descoberta e das viagens, a Tailândia apresenta dois aspectos nitidamente marcados. O das maravilhas naturais, históricas e religiosas e o das multidões e exagerada exploração comercial. É preciso tempo, pesquisa e dedicação para encontrar o mais genuíno da nação.

Na mesma rota costeira, ao Sul do país, é possível vislumbrar praias belíssimas, sufocadas pela indústria do turismo, e também desfrutar de ilhas bem preservadas e sem urbanizar. Em poucos quilômetros de distância as diferenças são alarmantes e atingem até mesmo o comportamento dos locais. O esquema turístico torna os naturalmente aprazíveis e amistosos tailandeses em comerciantes impacientes e não raramente irritadiços ou mesmo agressivos.

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A Tailândia recebe anualmente um número de estrangeiros equivalente à população de sua capital, cerca de 10 milhões de habitantes. É fácil alcançar o país – Bangkok é um hub aeroviário – há estrutura e conforto, mais gente falando inglês e menos risco. Isso faz com que lugares que viveram dias de beleza imaculada, na longínqua época do movimento hippie, possam ser comparados hoje a uma Disneyworld em mês de Julho, o pico do movimento no parque temático.

Exemplo disso é Maya Bay na considerada paradisíaca ilha de Ko Phi Phi. O turista padrão salta da capital direto para esse ponto e acredita estar saboreando o máximo da costa de Andamán. Usa seus “paus de selfie” e divide pouco mais de 150 metros de areia com praticamente outras mil almas ingênuas, ansiosas por um retrato e por mostrar onde estiveram ao regressar a casa. Dê uma olhada na foto abaixo e você vai enxergar Copacabana no verão ou o Farol da Barra, em Salvador, em janeiro. Triste.

Exagero? Não se você presenciar um guia local com microfone alardeando a fama do local desde que DiCaprio atuou ali para o filme “A praia”. Jamais combinaria com a paisagem de areias brancas, águas turquesa e monumentais paredões de rocha. Para incrementar o drama, quase uma centena de turistas ia atrás, entusiasmada com a fugaz importância cinematográfica do lugar.

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O ápice da estupidez, na minha sincera opinião, foi encontrar um sujeito enchendo garrafinha de água mineral com areia da baía. “Vou mostrar para os amigos um pouquinho de Maya Bay”, deveria pensar, sem qualquer lampejo de consciência ambiental.  A fama só contribuiu para poluir e estragar o – um dia intocado – cenário.

Outro exemplo é a estrutura muito bem montada em Bangkok com a finalidade de movimentar multidões em vans pelos arredores da capital. Os turistas passam horas no veículo entre três ou quatro atrações diferentes, shows com cobras, espetáculos de macacos ou a antinatural oportunidade de se aproximar de um par de tigres dopados. A saída é geralmente da área de Khao San Road, uma área turística de algumas quadras, onde todas as noites os bares tocam conhecidas e antigas canções internacionais para entreter os clientes.

O turismo sem dúvida traz o seu lado positivo: gera empregos, distribui renda e impulsiona o país, o que torna a Tailândia um destino completamente seguro. O que lastimo é o fato de se tornar ferramenta de aculturação de uma nação. Elefantes não nasceram para desenhar, crocodilos não foram criados para se apresentar como animais domésticos e minorias étnicas não existem para representações turísticas ou para pedir esmolas e gorjetas.

Ainda existem no Sudeste da Ásia, e na própria Tailândia, lugares muito interessantes, bem mais autênticos, e paisagens belíssimas a proporcionar experiências enriquecedoras. Posso garantir, após cinco meses desta expedição jornalística, cultural e de aventura – sendo dois só na Tailândia. Porém dá mais trabalho para descobrir e mesmo para chegar; exige mais flexibilidade e senso de adaptação, e, por vezes, surgem perrengues a enfrentar.

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Na ilha maravilhosa que descrevi no post passado, acordei de madrugada com um camundongo correndo na cabeceira do meu colchão, sobre o estrado de bambu. Claro que não gosto disso, sou uma pessoa normal, ainda que com certo espírito aventureiro. Mas, faz parte da trajetória.

De qualquer maneira, se cabe aqui alguma sugestão, digo que se esforce, não opte rapidamente pela opção óbvia, comercial e mais fácil, ainda que você prefira o conforto e não seja um viajante de longo prazo. Garanto que vai compensar, e muito. Viajar é diferente de fazer turismo.

 “Travel is like marriage.

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The certain way to be wrong
is to think you control it”

John Steinbeck (1902 – 1968)