Não desejava a exploração turística da guerra. Ainda mais de um conflito nacional que tomou proporções gigantescas, repercutiu mundialmente, matou um número impreciso – mas superior a dois milhões – de vietnamitas, além de outros milhões de combatentes cambojanos e do Laos, e deixou sequelas até hoje em gerações seguintes, como as deformações causadas pelo agente laranja, arma química das mais perigosas e cancerígenas.
Gostaria apenas de sentir um pouco mais o cenário e de ter alguma percepção prática do embate, 40 anos depois de finalizado e do regime socialista ter sido implantado, na nação reunificada. Como sempre faço nos locais que visito, dedico-me a refletir sobre os fatos históricos e a imaginar cenários passados.
Trinta minutos para compreender a Guerra, disse a guia vietnamita, não exatamente dessa maneira e nem com essas palavras. É difícil vocês me verem em qualquer tour ou excursão, mas nesse caso foi inevitável. Os pontos eram distantes um do outro, talvez um pouco difíceis de encontrar e a região ficava a 90 quilômetros da cidade onde eu estava. Por último, o preço compensava e poderia ter informações adicionais.
Na chegada à famosa Zona Desmilitarizada (DMZ), situada no Paralelo 17, onde um dia foi a divisa entre os Vietnam do Norte e do Sul, o impacto. Fui abordado por um vendedor de souvenires para lembrar o combate. Aprenderam o marketing com seus rivais de batalha.
Escapei e fui perseguido por outro, armado com uma bandeja onde repousavam símbolos e medalhas militares. Driblei o segundo, me escondendo atrás de um tanque original e ganhei tempo para organizar a tática de visitação. Corri para os túneis, onde, entrincheirados, se escondiam os vietcongs, comunistas do Norte.
Um pouco mais tarde iria visitar um deles que serviu de refúgio e de casa para 300 pessoas, em média, durante seis anos e nunca foi descoberto pelos norte-americanos. Plantavam em cima e se refugiavam embaixo. O túnel, de um quilômetro de extensão, três níveis e 13 entradas, tinha covas para armazenar armas, sala de reuniões e precárias estruturas de um lar.
De saída fui novamente cercado pelos mercadores de insígnias. Assim é em importantes centros históricos, no mundo todo. Em Teotihuacán, o complexo arquitetônico e espiritual dos Astecas, no México, é preciso andar em ziguezague para escapar dos vendedores. Apontei a câmera como defesa e recuaram, não gostam de registros fotográficos. Selamos a paz.
Com a pergunta certa, a guia vietnamita revelou as cicatrizes mais profundas das batalhas. Perdeu o avô, sulista, politicamente posicionado ao lado dos americanos, “porque queria proteger sua família”, segundo contou. A Guerra dividiu o povo e o país. Em sua fala, a aversão a qualquer tipo de conflito, dos bélicos aos familiares. Encontrou na função de guia uma maneira de aliviar a dor, ao indicar cenários de tragédias.
O cemitério de ex-combatentes tem três mil tumbas enfileiradas, a maior parte enterrada como desconhecidos. Todas com adornos artificiais. As flores de plástico não morrem.