O elefante. que se alimentava à beira da estrada do parque, parou o trânsito| Foto:
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A surpresa estava logo após uma curva da estrada asfaltada que corta o Parque Nacional de Khao Yai, no nordeste da Tailândia. Pilotava minha motinho alugada, como costumeiramente faço para explorar melhor as regiões, sempre de olho na mata, à espreita da vida selvagem. O gigantesco elefante se alimentava da vegetação ao lado da pista e havia bloqueado o tráfego no local.

Por vezes os mamíferos descem da floresta em busca de outros tipos de pastagens e grama e acabam se expondo à civilização. Incomodado com o movimento, ameaçou avançar no carro mais próximo. O motorista do terceiro veículo da fila, apavorado, deu marcha ré por uns 100 metros. A grande maioria das pessoas é muito temerosa em relação a ambientes inóspitos, fenômenos naturais e a animais incomuns.

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Entusiasmado, eu já havia parado no estreito acostamento, tinha descido da moto e registrava a cena. O elefante cruzou a estrada e se refugiou na vegetação. O tráfego voltou a fluir. Um carro passou observando, de vidros fechados. Fui atrás do bicho.

Adoro a vida selvagem, sempre um dos objetivos da expedição. É indescritível a sensação de caminhar por uma floresta e repentinamente avistar uma criatura que povoa o universo de filmes e histórias e está completamente longe do cotidiano urbano da maior parte de nós. Foi assim quando fiquei pertinho de ursos marrons e negros em parques do centro-norte dos Estados Unidos e do Alaska (saiba mais lendo sobre a expedição De Mochila pelas Américas em www.ikeweber.com).

Como observador da natureza, não queria deixar passar a oportunidade. Já havia perdido a pista do primeiro elefante do dia, avistado quando entrava no parque, de manhãzinha.  O Parque Nacional é o mais antigo da Tailândia e um dos três maiores do país, com 2,1 mil quilômetros quadrados de extensão. Abriga flora exótica com duas mil espécies de plantas e fauna variada composta de 300 tipos de pássaros, 70 de mamíferos e 74 espécies de répteis e anfíbios.

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Segui o elefante pela mata, vagarosamente. Procurei não fazer muito ruído, mas era difícil visto que não havia trilha e me enroscava na vegetação e em cipós. Por sorte ele não caminhou para longe, se estabeleceu perto da estrada, sempre comendo. Os elefantes devoram entre 150 e 200 kg de plantas, bambus e pequenos herbívoros diariamente.

Eu estava tremendamente satisfeito com a minha experiência junto aos elefantes em uma reserva natural no Camboja, há pouco menos de dois meses. Na ocasião pude alimentar, acariciar e dar banho nos animais, dentro de um rio com cascata (leia essa história em http://migre.me/t3hMF).

Porém, esses mamíferos haviam sido trazidos de tribos e vilas, um dia tinham sido domesticados. Agora era diferente, o animal era completamente livre e selvagem, nunca conheceu corrente ou foi escravizado para passeios turísticos, trabalho comunitário ou apresentações circenses.

A magia explodia, a aventura estava viva e a adrenalina, presente. Segui afastando os galhos e contemplando o brutamonte, mas era difícil captar imagens, a folhagem dificultava o trabalho. Cheguei muito perto, não mais do que uns 15 metros de distância, estava no que considerei o limite da segurança.

Em janeiro do ano passado houve diversos ataques sequenciais de elefantes no parque, com a destruição de vários carros. Especialistas atribuíram à escassez de alimentos na floresta, ao aumento do número de veículos nas imediações e interior do parque e à maior agressividade dos machos durante o acasalamento.

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O elefante de três metros de comprimento e entre três e quatro toneladas de peso parou num ponto onde não havia passagem, e aí me preocupei. Animais selvagens encurralados se tornam agressivos. Olhei em volta na tentativa de ficar atrás de uma árvore, mas nesse ponto não havia troncos suficientemente grandes e fortes para funcionar como barreira natural.

Eu queria fazer apenas uma imagem de frente para o paquiderme e deixaria o local. Não deu tempo. O elefante virou a cabeça, se voltou para mim, sacudiu as orelhas e barriu – esse é o som que eles produzem. Deu dois ou três passos fortes e ameaçou avançar. Se eu tivesse apontado a câmera fotográfica ele dispararia, pude enxergar a continuidade nos olhos do gigante. Cheguei a sentir o atropelamento.

Recuei sem voltar as costas, saltei numa ribanceira e corri para a estrada. Na fuga perdi a tampa da lente e tive pequenas escoriações na perna. O de menos. O elefante desceu para a pista, desta vez era ele quem me perseguia. Uma caminhonete de guarda parque já se aproximava.

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Alcancei a moto, me virei e ainda consegui documentar o bicho seguindo na minha direção. Vinha sem correr, do contrário eu não teria saído ileso. Desta vez não esperei, ele me esmagaria se saísse em disparada. Senti a adrenalina percorrer o organismo ainda por algum tempo. Eu me sentia vivo, livre e contente.