O ano parou por alguns dias, antes de terminar, e a viagem foi transformada em uma experiência profundamente sensorial. Algo mais apurado do que normalmente vivemos em nossos cotidianos. Junto à natureza, em uma ilha pequena e isolada do litoral do Camboja, é possível perceber mais profundamente os sentidos os quais nem sempre valorizamos como deveríamos.
Uma jornada por lugares encantadores sempre é visual. Os barcos desenham seus próprios contornos na superfície da água e o céu muda de cor, talvez orientado pelos coqueiros que apontam para o alto. O oceano se aquieta para revelar enormes pedras redondas a dividir espaço com corais coloridos. O sol se despede ao mesmo tempo em que a lua, cheia, transforma a noite em um novo amanhecer.
Isso convida as pessoas a estarem abertas e provavelmente mais afetivas. Éramos uma dezena de pessoas, representando distintas regiões do planeta, à mesa para o jantar de Natal. Conosco estava Kaspar, originário da terra de Santa Claus, como um duende representante de Papai Noel.
Nada diferente da comida habitual do lugar: frutos do mar grelhados ou ao molho de côco, com a mais conceituada pimenta do mundo, originária de Kampot. Sim, experiência degustativa, não só pela comida, mas também por sentir durante todo o dia a água do mar na boca ou o sal dos campos de extração na ponta da língua.
A prática é tátil, ao esfregar a areia grossa com fragmentos de conchas nas mãos, sentir o sol a aquecer a pele e a água a refrescar o corpo. Ou o caminhar descalço por dias, com as pedras cutucando a planta dos pés. Alisar a madeira que dá forma às embarcações e sustenta os bangalôs, rústicos, apenas cobertura de palha com cama e tina de água..
São relaxantes dias assim quando qualquer atividade simples pode se estender por horas sem deixar de ser prazerosa, embalada pelo aroma das plantas, o forte odor das algas ou o cheiro do vento. A vivência é auditiva quando estoura a pequena marola na praia, os pássaros pisam sobre os telhados e as crianças de almas livres explodem em saborosas gargalhadas.
Viajar é vida e cura a alma de qualquer mal. Aonde esta ilha se esconde será o meu pequeno segredo do caminho.