Invisível no mercado local. Esse é sempre o melhor jeito para se enfronhar na cultura de cada região, pesquisar e fotografar. Nem sempre é possível, pelo meu tipo físico e estatura. Para quem não me conhece, tenho 1,96 m e a maior parte das vezes não logro ficar muito tempo sem chamar a atenção. Desta vez tento e consigo. Passeio, circulo, observo.
Vejo a negociação de legumes, frutas, roupas, sapatos e quinquilharias no vilarejo de Sim Hô. E principalmente de animais, vivos e mortos. Frangos são desensacados das motocicletas de baixa cilindrada e levados pelo pescoço, ainda vivos, à barraca de venda; porcos são retalhados e comercializados por cortes diversos, tripas ou intestinos; patos desfilam ou aguardam enjaulados até o momento do abate.
É domingo e diversas etnias descem as montanhas para negociar no povoado, quase na fronteira com Laos. Compram e vendem. Inclusive os “Black HMongs”, trajando preto e simbolizando a resistência dos povos das montanhas.
Gosto de viajar com calma e de me aprofundar o máximo possível. Para mim, um mês é o mínimo aceitável para explorar e descobrir razoavelmente um país. Não acredite naquele que diz que conheceu a China porque esteve nas duas principais metrópoles ou que domina a Europa uma vez que visitou os pontos turísticos das principais capitais.
Com esse pensamento decidi deixar a cidade turística de Sapa, fundada como estação de verão na época em que o Vietnam era colônia da França, para avançar mais a noroeste. Até agora, os trajetos mais gratificantes foram longe dos espaços muito visitados.
No mercado semanal sou descoberto, como sempre pelos mais jovens, e explode a sinfonia de “hellos”. O inglês começa aí e termina em “by, by”. No meio geralmente vem uma sessão de fotos, já que sou raridade na região. As fotografias são tão interessantes para eles quanto para mim. As senhoras mais velhas não gostam. Mostrei a imagem para uma delas que protestou e esfregou o dedo na câmera, tentando apagar o registro.
Subo na moto para regressar e me descubro sem gasolina, depois de 200 km rodados. Um posto fechado e outro sem combustível. Bom tempo se passa enquanto tento perguntar se a gasolina ainda chegaria no mesmo dia. Gestos, palavras em inglês e mensagens escritas não foram suficientes para a comunicação. Não havia mais aonde ir e sem gasolina teria que ficar mais uma noite no povoado.
O caminhão da petroleira chega antes que eu desista e logo uma fila de motonetas se forma ao redor. Pego a estrada para cumprir parte do trajeto antes do escurecer. Por volta das 17h, chego ao trecho mais acidentado, com queda de barreiras por quilômetros. As fortes intervenções climáticas impedem que a pista seja colocada definitivamente em ordem. Na minha frente um motociclista retirava pedras para abrir caminho.
Bem na hora da minha passagem, de olho no barranco, duas rochas bastante grandes se projetam encosta abaixo. Com a graça de Deus tive calma e acompanhei o movimento das pedras rolando montanha abaixo, monitorei para ver se meu movimento seria de acelerar ou recuar, de saltar da moto ou avançar pilotando. Tensão geral, quem estava perto correu.
Acelerei e as pedras pararam antes de atingir a pista, a mim ou meu veículo. Alívio geral. Como aconteceu bem nessa hora? Riscos da viagem, proteção divina. Não, essa não era minha hora de partir. Apenas de regressar a cidade-base e retomar o meu caminho, De Mochila pela Ásia.