A expedição De Mochila pela Ásia tem sido uma experiência surpreendente, intensa, profunda, bonita, interessante, mas também difícil. Fascinante, sempre. Tenho me alegrado bastante, sorrido muito e me emocionado. Sempre me divirto, porém, por vezes também sofro.
Como agora, com três costelas quebradas, escoriações nos joelhos, braços e mãos e certa perda de rumo. Sim, sofri um acidente de moto, me estrebuchei no asfalto, no centro da Tailândia.
A princípio achei que não era grave, o susto e o impacto me deixaram atordoados. Poderia até considerar bobo esse acidente, pelas condições em que o episódio ocorreu. Olha que já estava alugando e viajando de moto há quatro meses, sem qualquer problema.
A primeira falha foi da administração do parque histórico de Kamphoeng Phet, o qual visitava. Colocaram duas lombadas em sequência sem qualquer aviso, pintura ou sinalização. Baixas, mas muito compactas, daquelas bem duras, sabe?
Vinha com algum embalo e passei rápido pela primeira, sem ver. Os objetos assentados em cima da moto saltaram e, no instinto, tentei segurar. Aí foi o meu erro, me desequilibrei, derrapei e fui projetado ao solo.
A moto deslizou no asfalto e eu fui parar com o nariz encostado na segunda lombada, a 20 metros da primeira. Pela adrenalina do momento, parecia que não tinha me machucado muito. Levantei, sacudi a poeira, observei os machucados, ergui e acionei a moto e continuei.
A câmera fotográfica, antes pendurada a um lado do meu corpo, partira. O visor foi deslocado e as imagens apareciam completamente desfocadas. O equipamento, após chocar-se contra o solo, impactou e pressionou meus ossos.
Segui, porém avariado, bem menos concentrado. Ao finalizar o dia, parti para remédio contra a dor e tratamento das feridas, com álcool e pomada antibactericida. Por estar mais desgastado do que o normal, o dia seguinte passei trabalhando no computador e só saí à noite para acompanhar as festividades em homenagem a Buddha.
Quatro dias se passaram, suspendi a medicação e a dor continuava, agora se irradiando pelas costas. Acionei o seguro saúde e fui atendido num hospital de primeira linha, na cidade de Chiang Mai, ao Norte do país. Passei por exames iniciais, fiz uma radiografia e sentei numas 10 cadeiras diferentes até receber o diagnóstico.
O centro médico está acostumado com pacientes de outros países, tem inclusive um balcão para atendimento internacional, além de profissionais com nível de inglês acima da média. Enquanto esperava, conversei um pouco com um senhor que havia quebrado a perna esquerda, após voar das escadarias da sua pousada.
O mais cômico (ou seria triste) era o fato dele estar sendo acompanhado por uma pessoa exageradamente perfumada e com roupas de gosto duvidoso. Fiquei em dúvida se a criatura com as unhas dos pés tingidas de azul e uma expressão indefinida seria uma prostituta com paupérrima apresentação ou mesmo um travesti. Pode achar estranho, mas não consegui identificar com exatidão.
Na Tailândia é comum alguns homens, principalmente mais jovens, assumirem certos traços da personalidade se fantasiando de mulher. Vi diversos, trabalhando de vestido ou usando “maria-chiquinha” em lojas de conveniência.
A pancada foi forte. Foram danificadas as costelas 5,6 e 9. Não achei pouco, ainda que as fraturas possam ter sido incompletas, ou seja, não saíram do lugar. A dúvida era como continuar agora, para onde ir, o que fazer? Primeiro segui o rito médico e, após a sentença, retirei a medicação na farmácia, instalada no próprio hospital. Serviço eficiente, ao custo de US$115, cobertos pelo seguro viagem.
A câmera fotográfica, consertei antes de começar a tratar as costelas, numa assistência autorizada, por US$22, quase perfeita.
“Só não pode carregar muito peso”, orienta o médico. E dizer isso logo para um viajante de mochila, sedento por aventuras. Sem dúvida, esse é o momento mais difícil da expedição. Pode soar esquisito, mas sinto as costelas se moverem e estalarem dentro do tronco, principalmente quando deito ou me viro na cama.
Agora, remédios e algum repouso porque a medicação provoca sono. As fraturas, nervosismo e irritação. Dia seguinte visitei um templo. Um não, acho que seis ou sete. Preciso encontrar meu rumo, ainda dói quando respiro profundamente.
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