É normalmente moroso se movimentar em Beijing, a capital da China. Porém, nada complicado, apesar do tamanho e de seus 22 milhões de habitantes. A metrópole tem um eficiente sistema de transporte público que inclui 15 linhas de metrô, o que torna possível ir a qualquer parte da cidade por baixo da terra. São Paulo, outra cidade gigante e com densidade demográfica semelhante, oferece apenas cinco linhas de transporte subterrâneo.
O cotidiano é de filas, ruas cheias e estações de metrô, ônibus e de trem, sempre movimentadas. Nada passa perto, no entanto, das multidões do Dia do Trabalho, um dos três grandes feriados do calendário chinês. Os outros dois são o Dia Nacional, em primeiro de Outubro, e o Ano Novo Chinês, em Fevereiro.
O feriado do Dia do Trabalho é uma festa de confraternização, mas principalmente de passeio para os chineses. Acostumados a curtos períodos de férias, é nas datas festivas que ganham as ruas ou se deslocam pelo país. As filas, sempre grandes, aumentam consideravelmente. Dobram quarteirões para pegar ônibus até a região da Grande Muralha. Transformam-se em ondas de gente nos pontos turísticos.
Para caminhar em meio à massa é preciso tranquilidade e paciência. Necessário saber ocupar cada espaço vago a sua frente. O povo é extremamente pacífico e, diferente de boa parte dos latinos, jamais cria confusão. Em um mês viajando pela China não vi qualquer manifestação de agressão física ou verbal. No entanto, a maioria é pouco educada, empurra, não respeita fila e tem pouca consideração com os demais. Não fazem por mal, é a cartilha da sobrevivência no país mais populoso do mundo.
Escolhi um dos dias mais congestionados para visitar a principal atração da China, a Cidade Proibida. Bem, não foi exatamente uma escolha, no dia anterior os ingressos estavam esgotados. O número de visitantes é limitado a 80 mil pessoas por dia, o que pode não significar muito em um país com 1,4 bilhão de pessoas.
Saí às 10 h da manhã do meu hostel e demorei uma hora para entrar na atração, após pegar duas linhas de metrô e vencer todos os procedimentos: área de segurança, centro de visitantes, centro de serviço e portões de acesso. Isso porque havia comprado meu ingresso antecipadamente, pela internet. Ainda bem que o lugar é imenso e no interior das praças, palácios e pavilhões, as multidões se dissipam.
A Praça da Paz Celestial é ponto central no feriado do trabalho. Além de circular pela possivelmente maior praça pública do mundo, com 440 mil metros quadrados, os chineses apreciam as construções em estilo soviético e, principalmente, a formação e marcha das guardas governamentais. Tian´anmén, como é chamado o local, é o centro simbólico do universo chinês, concebido pelo controverso líder nacionalista Mao Tse Tung para projetar o Partido Comunista.
Na história recente, a Praça da Paz Celestial ficou marcada pelo massacre promovido pelo próprio governo, ao reprimir com força os protestos contra o regime político. Liderada por estudantes, em 1989, a manifestação pacífica se opunha ao regime e à situação econômica da época. A imagem que correu o mundo foi a do desconhecido invadindo a praça e se postando em frente aos tanques de guerra. Foi considerado uma das pessoas mais influentes do século XX, pela revista americana Time.
Ainda que cansativa, é única a experiência de estar na capital da China numa data tão importante e movimentada. Talvez um momento para se vivenciar apenas uma vez na vida.
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