Entramos na loja para admirar a caligrafia chinesa, uma das inúmeras expressões artísticas do país. Como estrangeiro, fui repentinamente convidado para um chá pelo dono do estabelecimento, um pintor local. Ali mesmo, em uma mesa instalada entre livros, pinturas, papéis e caracteres Han. Não estava só, toda a conversa foi traduzida pelo meu novo amigo chinês, Shunyao Jin, um jovem estudante de Ciências da Computação da província de Shandóng.
A filha do artista praticava a arte de desenhar os caracteres que historicamente existem em cinco diferentes estilos. A caligrafia chinesa é um sistema de origem remota, talvez perdido no tempo. Confúcio fazia referência à escrita antes de 2.000 a.C. Cada sinograma representa um conceito, por isso a comunicação é chamada de logográfica – e não mais ideográfica – já que não simboliza uma ideia concreta. Entre os anos 50 e 60 os caracteres foram simplificados, com a redução do número de traços.
O pintor é especialista em figuras chinesas e cenas possíveis de serem vistas em templos budistas pelo país. A maior característica da arte nessa parte do mundo é o uso do traço. A força da expressão está na energia das pinceladas e na inserção de pontos.
As tonalidades variam conforme a densidade da tinta, preparada com barra sólida e água. Orgulhoso, o artista mostra recortes de jornal que divulgam seu talento e me presenteia com belos caracteres que significam uma conexão entre a China e meu país.
O chá foi servido em uma cerimônia tradicional, mas cotidiana, simples. As diminutas xícaras recebem a bebida uma primeira vez, mas o chá é jogado fora, sobre uma estátua de madeira em forma de sapo. Serve para a limpeza dos utensílios. A bebida só é ingerida a partir do segundo ciclo, quando o sabor está mais refinado. As rodadas são sucessivas, a pequena xícara não fica vazia. O bule descansa sobre um delicado fogareiro. Tudo é arte no país.
Jin, como vamos chamar o meu amigo a partir de agora, é o exemplo da nova geração que compõe a ascendente classe média da China. Veio de boa família, estudou na melhor universidade da sua região e está aprendendo inglês por conta. Em dois meses começa a trabalhar na IBM, em Beijing, e pelo que suas capacidades indicam, seguramente terá uma carreira ascendente. Metade de seus colegas de classe já está fora do país, estudando ou trabalhando.
O caçador de relíquias – amigo do pintor e também convidado para o bate papo – viaja pela China há pelo menos 20 anos. Busca tesouros da cultura ancestral para vender em sua loja, vizinha ao lugar onde apreciamos o chá. Especialmente peças em jade. A conversa flui entre temas como pinturas e suas representações, costumes do Brasil e as próximas Olimpíadas, do Rio de Janeiro.
As xícaras não descansam vazias. No princípio, a erva era cultivada para uso medicinal. Nos templos, os monges usavam o chá para ensinar o respeito pela natureza, a humildade e transmitir paz.
Hoje estou vivenciando valores como esses, no contato com o povo chinês. São afáveis, amigáveis e extremamente hospitaleiros. São experiências assim que busco quando me atiro pelo mundo. Autênticas, muito além da visitação turística.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares