Hoje existem apenas 30% da floresta nativa do Camboja. O desmatamento foi provocado pela exploração de madeira e mau uso do solo pelos fazendeiros. Há seis anos, o país tinha cinco centenas de elefantes, entre domesticados e livres. Agora é possível numerar cada indivíduo: são apenas 116 selvagens e 48 domesticados. Muitos desapareceram com a redução da mata, alguns foram levados ao vizinho Vietnam e, outros, forçados a trabalhar e depois mortos na Guerra Civil de Polpot, nos anos 70.
Tive a oportunidade de circular pelas áreas agrícolas e caminhar pela borda da floresta. Melhor, pude contemplar cinco elefantes abrigados numa reserva natural de 200 hectares perto de Sen Monorom, no nordeste do país. O espaço é parte de um projeto de conservação da vegetação nativa e preservação dos animais.
A experiência é única e fascinante. Caminhei com os bichos, alimentei-os com bananas, entregues na tromba ou direto na boca, e entrei no rio com pequenas quedas d´água para lavar o dorso enrugado e a pele grossa dos gigantescos mamíferos. A limpeza ajuda a remover bactérias e previne infecções. Nada de escalar os elefantes, montar é extremamente proibido porque desgasta e estressa os animais. Foi uma experiência autêntica, longe de circos e livres de shows.
Os indivíduos que vivem na reserva são fêmeas e foram comprados na região ao preço médio de US$30 mil. Moon tem entre 35 e 40 anos e furo em uma das orelhas porque trabalhava arrastando cargas de madeira na vila de Oriang.
Na reserva, os elefantes fazem o que tem vontade de fazer, além de comer o dia todo, bambus e plantas nativas. Se não querem ser banhados, não entram no rio e se preferem ir embora, apenas se afastam. Os “mahouts”, responsáveis por guiar e tratar dos animais, garantem a segurança, mas não forçam os bichos.
Cada um deles pesa entre três e quatro toneladas e come o equivalente a 200 kg por dia. Se estiverem livres, em cenário natural, podem viver mais de 100 anos. Alguns ainda trabalham nas vilas indígenas, ajudando na colheita e no transporte de madeira. Os mamíferos asiáticos são menores do que as espécies africanas.
Existem cinco projetos voltados ao abrigo e cuidado de elefantes na região. Muito difícil escolher o mais adequado, há uma guerra ética e comercial entre eles. Todos se intitulam Ongs sem finalidade de lucro e com o propósito de apoiar as comunidades indígenas Bunong.
A vida é pobre e simples nas vilas. As famílias se formam cedo e dão origem há vários filhos, muitos privados de educação. A população cresceu e a comida diminuiu. Todos descem das montanhas com os cestos às costas para vender produtos rurais no mercado do povoado. Vivem com pouca ou nenhuma assistência médica, buscam a cura e a magia na floresta. Enfrentam a malária que atinge em torno de 40 mil pessoas por ano no país.
A reserva que visitei deve ficar intacta ao menos pelos próximos 30 anos, tempo do contrato assinado entre o governo, a Ong e a comunidade étnica. É uma esperança porque em 2014 o Camboja perdeu uma área de floresta quatro vezes maior do que em 2001, segundo levantamento do World Resources Institute, um centro de pesquisas mundial, com sede em Washington. Uma das causas é a indústria de borracha que se desenvolve com força na região do rio Mekong.
Os antigos dizem que se algo errado está para acontecer na comunidade, o elefante é o primeiro a saber.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; acompanhe o Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Enquete: como o Brasil deve responder ao boicote de empresas francesas à carne do Mercosul?