As tentativas de trapaças e o superfaturamento, principalmente de serviços, estão sempre presentes nos países do sudeste asiático. Após 30 dias no Camboja, parti rumo ao Laos, o terceiro país da expedição De Mochila pela Ásia.
De Tsung Treng, comprei passagem até a maior das ilhas do Mekong, ao sul de Laos, uma região de grande arquipélago fluvial. A combinação de transporte para chegar a esse tipo de lugar é muitas vezes complexo, há deslocamentos por terra e por água e mudanças de veículos impossíveis de serem entendidas por um estrangeiro.
Paguei US$15 para sair do povoado Cambojano e ser entregue em Do Khong, do outro lado do rio, um preço normal para os padrões locais. Como sempre, optei pelo lugar mais remoto, mais distante, menos frequentado ou visitado.
Do primeiro veículo, surpreendentemente novinho, me fizeram descer e entrar numa van velha, apenas com viajantes locais. Normal, faz parte da combinação de transporte que só eles conseguem compreender.
Na fronteira, cruzei os dedos. Meu visto estava vencido e tinha receio de ser punido de forma financeiramente mais severa do que o normal. Por sorte paguei apenas US$4 dólares de multa pelo dia extra. Outros US$3 todos os estrangeiros pagavam pelo selo de saída, uma taxa que ninguém sabia se era legal ou apenas uma “propina oficial”. Na aduana laosiana, o preço correto pelo visto, US$30, mais US$2 pelo selo do país.
De volta à van, o motorista dirige mais uns cinco ou seis quilômetros e acena para eu descer. Disse que eu deveria seguir de tuk-tuk, aquele triciclo motorizado com cabine para transporte de passageiros. Já desci desconfiado. Ainda haveria um barco para eu tomar e o meu bilhete – apenas um pedaço de papel de outro país – me dava direto a chegar ao destino final.
O motorista da van e o do riquixá negociaram por algum tempo e o transporte foi quitado. Vi o laosiano reclamar e pedir mais dinheiro porque seria longe o ponto onde teria que me deixar. O valor extra, que não me parecia ser assim tão extraordinário, foi entregue.
Até o momento, quase dois meses e meio de viagem, não havia embarcado em qualquer tuk-tuk. Sempre me desloquei a pé ou por conta, de bicicleta e de moto, algumas poucas vezes de ônibus ou de moto táxi. Os tuk-tuks são geralmente mais caros e, em determinados centros, tem péssima fama.
Alguns quilômetros adiante o motorista para e desliga a motocicleta. Diz que a viagem estava paga apenas até aquele ponto e que eu deveria seguir de táxi dali por diante. Na hora, não entendi. Ele repetiu que teria que pagar mais US$3 se fosse continuar com ele e outros US$6 por um barco para atravessar o rio. Eu estava surpreso. Questionei. Ele reafirmou, com a moto desligada.
Não acreditei, argumentei, ele insistiu e ficamos assim algum tempo. Mostrei o tíquete pago, ele reclamou dos cambojanos e confirmou que só seguiria por um valor extra. Eu estava estupefato, havia pagado US$15 e o bilhete comprovava, mas como argumentar, se não tratei com aquele sujeito, já havia cruzado a fronteira e estava em um outro país?
Ainda tentava entender se a pilantragem era do homem do triciclo ou se o esquema de transporte do Camboja havia falhado. Levantei e, firme, garanti que não pagaria nada mais por aquela viagem. Na hora não pensava em qualquer ato de força, estava apenas imaginando se teria que saltar e pegar uma carona, ou caminhar.
Não fazia ideia de onde estava ou se havia logo um rio para cruzar. Acabara de ingressar numa terra desconhecida. O fato é que não daria dinheiro para aquele motorista e deixei isso bem claro.
O motorista se intimidou e retrocedeu. Disse que estávamos a mais de 10 km de distância, ligou a moto e seguimos viagem. Ainda não acreditava na malandragem que ele havia tentado.
Um quilômetro adiante reduziu a marcha e, acenando com a cabeça e sorrindo, disse: “Ok, então mais dois dólares, certo?”. Reafirmei, ainda mais forte, minha posição. O veículo prosseguiu e eu não fazia ideia se rodávamos rumo ao destino certo ou o que tramava aquele estafador.
Cruzamos uma ponte e percebi que havia uma alternativa de caminho, sem barco para cruzar o rio. Pelas placas acompanhei a chegada ao lugar imaginado, o sujeito me deixou certinho no centro da comunidade fluvial, sem a menor demonstração de vergonha, desculpas ou arrependimento.
Finalmente chegava ao Laos, onde os arrozais são mais verdes e o Rio Mekong escorre em coloração turquesa.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares