Crônica do Viajante
Pelas ruas do centro histórico da Cidade do México se escutam canções tradicionais, sopradas de caixas de música ao estilo parisiense. Do alto do 44 andar do edifício que orgulha-se de ter sido o mais alto da capital, na década de 50, o viajante contempla as palmeiras que balançam ao sabor da brisa cálida.
A Torre Latino Americana, construída sobre o que foi um zoológico da Civilização Asteca, é sólida, estruturada e imponente. Já resistiu a terremoto, sem qualquer degradação.
Os monumentos igualmente gigantescos, como tudo na capital, também observam do alto o cenário da segunda maior cidade do mundo, com 21 milhões de habitantes.
México DF é onde tudo acontece. A Harley Davidson escolheu a megalópole para ser um dos lugares do mundo a celebrar o aniversário de 110 anos da marca, símbolo americano da rebeldia e da liberdade. O cortejo de motocicletas entupiu o centro em uma manhã de sábado.
Manhã nublada, como são todos os dias primaveris de uma das cidades mais poluídas do mundo. Mesmo em dias quentes e secos o sol não consegue romper a barreira de gases poluentes. O céu não tem permissão para ficar azul.
Ambulantes fogem da fiscalização. Funcionários públicos protestam pela reforma do ensino. Prestadores de serviço técnico fazem ponto ao lado da Catedral. O comércio bomba na cidade que parece estar em constante clima de Natal.
Na praça imensa, construída sobre a antiga capital Mexica de Tenochtitlan, descendentes Xamãs atendem como médicos naturalistas. A cultura foi preservada, o mercantilismo não se apoderou da alma mística dos ritualistas. O atendimento é gratuito.
A passos dali, meninas se agrupam para cultuar outro fenômeno, o da música pop juvenil. O fã clube de Justin Bieber se reúne periodicamente para trocar informações sobre o cantor.
Em outra praça central, o encontro é entre os Mariachis. Adornados, aguardam pelo turista que pagará por uma canção.
Cidadãos disputam espaço no calçadão mais famoso da capital. O trânsito para. O rush começa cedo e vai até tarde na vibrante e cosmopolita cidade. Ao entardecer, as fontes da Alameda Central lançam jatos luminosos que se desapegam em movimentos dançantes.
No subsolo, outra vida acontece. Maior. Mais numerosa. Quase cinco milhões de pessoas são transportados diariamente em 11 linhas de metrô que cobrem 200 quilômetros baixo terra. O comércio das profundezas é agitado e dinâmico, dentro e fora dos vagões.
Na cidade católica, a “senhora morte” é adorada como santa.
O viajante, deliciosamente surpreso e feliz, observa tudo do alto. Imagina o que não vê. Os céus da capital mexicana são riscados por aviões e sustentam os movimentos macios dos helicópteros.