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A indústria global da beleza movimenta cerca de US$ 530 bilhões por ano e deverá crescer 25% até 2026, segundo projeção da Statista. De olho no futuro, as empresas correm para se conectar com algumas das principais demandas da sociedade. Pesquisa feita pela McKinsey prevê que, até 2030, o radar desse mercado estará voltado para inclusão, personalização e sustentabilidade. Por conta própria, vou adicionar mais um pilar estratégico: a inovação.
A convite do Grupo Boticário, estive recentemente no laboratório do futuro da empresa, em São José dos Pinhais (Paraná), que abriga uma das fábricas onde são pesquisados e produzidos os produtos da marca. O objetivo do grupo, que cria cerca de 1 bilhão de unidades a cada ano, é ser "o maior e melhor ecossistema de beleza para o mundo". Segundo o diretor executivo de pesquisa e desenvolvimento, Gustavo Dieamant, a ambição do negócio é gerar impacto com inovação em produtos inclusivos e sustentáveis, em linha com os desafios globais da indústria.
Os alicerces da empresa para chegar lá estão baseados na união entre ciência e tecnologia - e no entendimento do papel humano nesse processo. Muito tem se falado sobre o avanço da Inteligência Artificial e o impacto dela no mercado de trabalho. Houve até a circulação de listas de profissões que estariam "com os dias contados" na era do ChatGPT, o chatbot que escreve textos em tempo real. Na visita ao laboratório do futuro, porém, foi interessante perceber como nada disso se sobrepõe (pelo menos até agora) ao olhar humano na hora de encantar o cliente.
No Grupo Boticário, a IA é utilizada para analisar grandes conjuntos de informações a fim de identificar padrões. De acordo com Dieamant, a empresa tem cadastradas mais de 250 mil fórmulas já testadas. Em um sistema, é possível digitar palavras-chave relacionadas à finalidade da pesquisa (por exemplo, rugas, hidratação por 48 horas) para, então, a tecnologia fazer uma varredura no banco de dados e fornecer sugestões de combinações de fórmulas. Mas, quem bate o martelo sobre a solução que vai ao mercado são as pessoas.
O mesmo vale para o "nariz digital", inovação anunciada pela empresa no ano passado. Trata-se de uma ferramenta capaz de extrair as moléculas que compõem os aromas, o que permite a especialistas identificá-los com mais facilidade, abrindo espaço para a intensificação ou redução de determinado cheiro na composição do perfume - uma espécie de "toque do chef" em uma refeição.
O perfumista técnico e expert em fragrâncias no Grupo Boticário, Cesar Veiga, reconhece o apoio da Inteligência Artificial no desenvolvimento dos produtos, mas ressalta a essencial contribuição humana nessa que é uma missão das mais complexas.
"O algoritmo ajuda a acelerar conexões, a ter o entendimento do público-alvo e a avaliar o que já deu certo. A tecnologia facilita, mas falta o toque humano e a sensibilidade da percepção", explica. Veiga conta que, em uma viagem recente a Cuba, descobriu um novo aroma até então não catalogado. No caso, a sensibilidade foi dele; a tecnologia entrou em cena apenas para ajudar a identificar os componentes daquele ativo encontrado na natureza.
*Marcelo Gripa é especialista em comunicação corporativa e cofundador do Futuros Possíveis.
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