O ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) participou nesta segunda-feira (16) do programa Roda Viva, na TV Cultura. Foi a primeira vez que ele apareceu na imprensa desde a sua cassação, confirmada na última terça-feira (10) pelo Senado. Na entrevista, o político chorou ao falar da família e pediu desculpas à população por ter cometido o crime de obstrução da Justiça.
Delcidio foi detido na Lava Jato no final do ano passado, tornando-se o primeiro senador preso durante o mandato na história do país. Ele foi preso em flagrante pela Polícia Federal (PF) tentando impedir o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró de firmar um acordo de colaboração premiada com a força-tarefa, além de ter tentado elaborar um plano de fuga para o ex-diretor.
Meses após a prisão, o ex-senador decidiu colaborar com as investigações, se autointitulando um “profeta do caos”. Delcidio deu detalhes do esquema de corrupção na Petrobras e em outras empresas públicas, envolvendo nomes de outros políticos, e descreveu uma suposta tentativa da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Lula de interferir na operação Lava Jato.
Envolvimento do Planalto
Segundo o ex-senador, a tentativa de intervenção sobre o acordo de Cerveró ocorreu por um pedido do ex-presidente Lula. “Com a liderança do governo, assoberbado e efetivamente em um momento em que eu não avaliei bem, até em função dos meus princípios, da minha avaliação, da minha educação, eu acabei cometendo esse deslize e fui denunciado por obstrução de Justiça. E é importante registrar e eu quero destacar aqui: obstrução de Justiça. É uma falha grave, que eu me desculpei, não deveria ter feito isso. Agora, não fui denunciado por roubo, por desvio de dinheiro, por conta no exterior. Isso não”, afirmou o político.
Delcidio disse que, como líder do governo no Senado, alertou diversas vezes a presidente Dilma do rápido avanço da operação Lava Jato, mas que pessoas próximas à petista fizeram uma má avaliação sobre o andamento das investigações. “Avisei sistematicamente a presidente Dilma sobre o que poderia acontecer na Lava Jato. Mas havia uma estratégia: ‘Não, deixa, isso vai pegar só congressista’. Eu dizia: ‘Um dia vem para o Palácio do Planalto’. E acabou acontecendo isso. Se você olhar o impeachment, o que é o impeachment? É pedalada? Isso aí é um dos motivos. O pano de fundo é a Lava Jato”, concluiu Delcidio.
Perguntado se acredita que o ex-presidente Lula será preso pela Lava Jato, o político fugiu da questão, afirmando que não é o “juiz do caso”. Mas sua previsão sobre o futuro do petista não é animadora. “Acho que presidente Lula sai muito desgastado de tudo isso e acho muito difícil uma candidatura competitiva”, disse, referindo-se a uma possível candidatura de Lula em 2018. “O cerco se fechou”, acrescentou sobre a Lava Jato.
Desculpas
O ex-senador pediu desculpas por ter tentado obstruir a Justiça, mas negou ter cometido outros crimes ou possuir contas no exterior e controlar alguma offshore. Delcidio também garantiu que não recebeu dinheiro do esquema de corrupção.
“Até por esse espírito de trabalhar por um governo, esse espírito de trabalhar por uma missão para que o governo desse certo, eu efetivamente passei dos limites. E inclusive publicamente pedi desculpas ao povo brasileiro, ao povo do Mato Grosso do Sul”, disse o ex-senador.
Na entrevista, Delcídio se emocionou ao comentar sobre uma carta escrita por sua filha, Maria Eduarda Amaral, de 21 anos. A carta, intitulada “Pessoas que eu amava me deixaram”, falava das dificuldades enfrentadas pela família com a prisão do ex-senador.
A jornalista Vera Magalhães perguntou se o ex-senador se sentia culpado pelos danos sofridos por seus familiares. “Me sinto responsável. Se vocês olharem essa carta, minha filha tem 21 anos. Essa carta viralizou e muitas pessoas leram. É um retrato do que nós vivemos, do que nós vivenciamos. E eu não abdico, a responsabilidade foi minha”, disse ele, com a voz embargada.
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