O ex-assessor do deputado José Janene, João Claudio Genu, protagonizou um dos melhores depoimentos que a Lava Jato já testemunhou. Preso no dia 23 de maio, na 29ª fase da operação, batizada de Repescagem, ele foi ouvido dois dias depois pelo delegado da Polícia Federal (PF) Luciano Flores.
Na primeira parte da oitiva, Genu demonstra ao delegado sua vontade de colaborar – há uma semana, a defesa dele confirmou que ele estuda firmar acordo de delação premiada. Para “pesar” a relevância do que tem a falar, durante várias partes da oitiva, ele ressalta que só vai contar tudo “na semana que vem” e que tem em seu poder o enredo do “início de toda história”.
Se mostrando um bom conhecedor do processo, o ex-assessor diz que leu os depoimentos de vários delatores do esquema e que muitos “inventaram” histórias. Ele cita “alguém” que diz que carregava R$ 750 mil escondidos no corpo, e então solta a primeira pérola: “vai enfiar no c*?”, diz, demonstrando a impossibilidade de se carregar 75 pacotes de R$ 100 junto ao corpo.
Ao final de um dos vídeos – o depoimento dura quase duas horas e é dividido em cinco partes – ele não se sente constrangido em pedir a um agente da PF que não deixe esfriar sua “bóia” e ainda solta para o advogado: “Trouxe o meu biscoito?”.
Durante a conversa, Genu fala sobre a intimidade que mantinha com Janene e conta algumas histórias envolvendo o ex-deputado, morto em 2010. Diz que a casa do político parecia “porteira de ônibus, entrava quem quisesse”. Também relata um episódio em que, já mal de saúde, voltando de uma consulta com o médium João de Deus, fez questão de ir ao Congresso “distribuir” dinheiro aos políticos.
O ex-assessor ressalta ainda que Janene tinha medo de ter seu esquema descoberto, tanto que não usava celular para falar sobre tratativas importantes. “Só falava abobrinha”, diz Genu. O político também cuidava para não ser pego e preferia viajar de carro do que de avião em algumas ocasiões. Genu atuou como assessor do PP e também trabalhou para Janene. O ex-assessor chegou a ser condenado por envolvimento no caso mensalão.
Genu também tenta justificar alguns de seus ganhos “legais” ao delegado da PF. Ele conta que atuava como “agente comercial” em apresentações artísticas e que ganhava comissões de franquias dos Correios por arrumar “clientes”. Tamanha influência vinha de carreira extensa no serviço público: o ex-assessor atuava nos bastidores do poder desde 1988.
O mais criticado durante a oitiva é o doleiro Alberto Youssef, com quem hoje Genu convive hoje na Superintendência da PF em Curitiba. O ex-assessor o chama de “mentiroso”, diz que ele “vazava informações” e afirma que o doleiro “roubava” dinheiro de Janene.
Ele reclama também que, depois da morte do político, de quem recebia cerca de R$ 100 mil por mês, passou a ganhar de R$ 20 a R$ 30 mil de Youssef. Questionado pelo delegado sobre o motivo de recebimento do dinheiro, já que não prestava mais serviços a Janene, Genu se enrola. Diz que tinha “negócios antigos” a serem acertados. No final, desconversa: “Vai ter um capítulo sobre esse negócio”, diz, em referência ao possível acordo de delação premiada.
Também é possível extrair do depoimento que Genu tinha um apreço por relógios. Ele relata um episódio em que teria ganho um de presente de Youssef, mas nega ter ficado com o “mimo” de US$ 15 mil dólares.
Ao final, ele também fala dos relógios apreendidos nas diversas buscas já feitas pela polícia na sua casa. Em ocasião anterior, o delegado deixou um deles “de brinde” para Genu, mas, agora, na prisão da Lava Jato, não teve choro: a PF levou todos. Mas ele ressalta: “têm relógio falso lá”.
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