Os integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato concederam uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (12) para detalhar as investigações que culminaram na deflagração da 28ª fase da operação. Chamou a atenção durante a coletiva o tom mais duro adotado, principalmente pelos procuradores da República, para ressaltar que a operação é apartidária e não envolve pessoas com prerrogativa de foro.
A impressão é que os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) usaram a coletiva de imprensa para rebater de forma mais incisiva as críticas de que a força-tarefa tem sido parcial durante as investigações de crimes de corrupção na Petrobras.
Logo no início da entrevista coletiva, o procurador Carlos Lima adotou um discurso mais duro para defender o trabalho da força-tarefa. “Isso revela algo muito delicado, muito importante que tem que ser ressaltado, o uso do poder é que gera corrupção. Nós estamos verificando, desde as investigações do [caso] Banestado, que o exercício do poder, seja por qual partido for, tem gerado corrupção e essa corrupção tem como finalidade suprir caixa em campanhas políticas. Tanto é verdade, que esses valores, boa parte, foram encaminhadas para partidos da base desse senador, Gim Argello (PTB-DF), entre eles, inclusive, partidos da oposição. A conclusão que nós chegamos e a conclusão que todos devem chegar é que o sistema político partidário no país está apodrecido pelo abuso do poder econômico. Essa é a mensagem que gostaríamos de deixar nessa operação de hoje”, disse Lima já em sua primeira fala durante a entrevista dessa manhã.
Esse também foi o tom do procurador Athayde Ribeiro, ao ressaltar a “gravidade e audácia” da conduta do ex-senador Gim Argello (PTB), preso por cobrar propina para evitar convocação de empreiteiros para deporem na CPI e na CPMI da Petrobras no Congresso. “O caso de hoje revela um grave atentado à ordem pública, com corrupção enquadrada, corrupção qualificada. […] O crime foi dotado de inusitado atrevimento, porque foi uma corrupção para encobrir corrupção realizada mesmo depois da deflagração da operação Lava Jato”, ressaltou Ribeiro.
A força-tarefa da Lava Jato vem sofrendo diversas críticas ao trabalho de investigação que vem sendo realizado. Muito se fala em parcialidade, já que na grande maioria dos casos, os investigados são ligados a partidos de situação e não de oposição. Havia, inclusive, uma expectativa de que a força-tarefa realizasse uma operação nesta semana envolvendo pessoas próximas ao Governo Federal, para gerar mais um ingrediente político que pudesse interferir no processo de impeachment da presidente Dilma que será votado no final de semana no plenário da Câmara.
Os investigadores frisaram várias vezes durante a entrevista coletiva dessa terça-feira o fato de ninguém investigado nessa fase da Lava Jato possuir prerrogativa de foro e o foco das investigações ser apenas o ex-senador Gim Argello (PTB), o que pode ter sido uma cautela a mais adotada pela força-tarefa depois de diversas críticas recebidas por investigações que deveriam estar no Supremo Tribunal Federal (STF).
O caso mais simbólico foi a divulgação de áudios de interceptações telefônicas do ex-presidente Lula. Em um dos áudios, aparece um diálogo de Lula com a presidente Dilma Rousseff (PT), o que gerou discussão sobre a necessidade de uma autorização do Supremo para realizar as escutas, já que Dilma tem prerrogativa de foro.
O delegado da Polícia Federal comentou as críticas recebidas pelo teor das investigações da Lava Jato. “Se questiona muito isso pelo fato do Governo [Federal] normalmente tem sido mais atingido que os demais [partidos]. Nós estamos falando de um partido que está há 12 anos no governo, então naturalmente a máquina pública é por ele dominada, então é natural que aconteça esse tipo de reiteração em pessoas do partido da situação. Mas [a investigação] é apartidária, uma prova disso é que os partidos hoje que foram beneficiados desses depósitos que totalizaram R$ 5 milhões, tem partidos da oposição e da situação”, ressaltou o delegado.
No despacho que determinou a prisão de Argello, o juiz Sergio Moro também não poupou o ex-senador. “Parece intolerável que o investigado, integrante das comissões parlamentares de inquérito, ao invés de contribuir com as apurações, passasse, como indicam as provas, a extorquir os investigados para protegê-los das apurações. Essa audácia criminosa, pertinente ao modus operandi, também é indicativo da necessidade da prisão cautelar para interromper a possibilidade da prática de novos atos criminais pelo investigado e para resguardar a ordem pública”, justificou o juiz.
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