O presidente em exercício Michel Temer (PMDB) definiu nesta quinta-feira (12) a composição do ministério de seu governo. Entre os nomes, pelo menos sete já apareceram nas investigações da Operação Lava Jato, maior investigação contra a corrupção já realizada no país. Mesmo em um momento em que o país assiste o Congresso aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) alegando o envolvimento do PT em esquemas de corrupção, Temer recrutou sete nomes que aparecem na Lava Jato para o primeiro escalão do governo.
Um dos pontos cruciais para a perda de apoio político que levou à aprovação do impeachment, segundo diversos cientistas políticos, foi a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, em março. O ato foi interpretado como uma tentativa de obstruir a Justiça, garantindo prerrogativa de foro ao ex-presidente investigado em Curitiba por participação na Lava Jato. Esse teria sido um perigoso erro político cometido por Dilma, que até aquele momento estava de certa forma “afastada” do centro das investigações.
O próprio Michel Temer (PMDB) já apareceu na Lava Jato. Ele foi citado por delatores ouvidos pela força-tarefa. O dono da Engevix José Antunes Sobrinho afirmou que Temer pagou propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente.
Delcidio Amaral também envolveu o presidente em exercício no escândalo. Segundo o ex-senador, Temer era padrinho político do operador João Augusto Rezende Henriques – operador envolvido no esquema de corrupção da Petrobras, que foi preso pela PF.
Veja quem são os ministros de Temer que já foram citados na Lava Jato:
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ministro-chefe da Secretaria de Governo
Citado na Lava Jato sob suspeita de negociar propina com a OAS. A Polícia Federal apreendeu no celular de Leo Pinheiro, ex-presidente da construtora, mensagens que mostrariam a atuação de Vieira Lima. Ele também teria solicitado doações da OAS para sua campanha ao Senado e para outros políticos do PMDB baiano.
Romero Jucá (PMDB), ministro do Planejamento
Em acordo de colaboração premiada, executivos da Andrade Gutierrez mencionaram o nome de Jucá em um esquema no setor elétrico, na Eletronorte. O ex-senador Delcídio do Amaral também citou Jucá em seus depoimentos de delação, dizendo que a Eletronorte “atende aos interesses” de Jucá.
Também há um inquérito aberto contra Jucá na Lava Jato para apurar afirmações feitas pelo dono da UTC Ricardo Pessoa em delação premiada. Pessoa afirmou que Jucá pediu R$ 1,5 milhão em doações para as eleições de 2014 em Roraima, quando seu filho, Rodrigo Jucá foi candidato a vice-governador. O dinheiro seria propina pela contratação da UTC em obras da Eletronuclear.
O senador também apareceu na famosa Lista de Janot, no ano passado. O nome dele apareceu em depoimentos de delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Segundo Costa, Jucá seria um dos 27 beneficiários do esquema de desvios envolvendo contratos da Petrobrás.
Henrique Eduardo Alves (PMDB), ministro do Turismo
O nome de Alves aparece em mensagens encontradas no celular do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro. O conteúdo revela que doações para campanha de Alves foram solicitadas pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB). Em dezembro do ano passado, a Polícia Federal realizou buscas e apreensões na casa de Alves.
Bruno Araújo (PSDB), ministro das Cidades
O nome de Bruno Araújo aparece em uma lista de doações feitas pela empreiteira Odebrecht, apreendida na Lava Jato em março, no “departamento de propina da empresa”. Segundo o juiz Sérgio Moro, que comanda a operação em primeira instância, não é possível afirmar que o montante, referente a campanhas eleitorais de 2010 e 2012, seja oficial ou via caixa dois.
Ricardo Barros (PP), ministro da Saúde
Ricardo Barros (PP) também aparece na lista da Odebrecht. Na planilha, Barros aparece ao lado de outros três políticos do PP que teriam recebido R$ 850 mil. O documento tem data de 6 de setembro de 2012.
José Serra (PSDB), ministro das Relações Exteriores
O nome de Serra também aparece na lista apreendida no “departamento de propinas” da Odebrecht.
Raul Jungmann (PPS), ministro da Defesa
Jungmann também é um dos citados na lista da Odebrecht. No documento, ele é mencionado com o apelido de “Bruto”. As investigações ainda irão buscar esclarecer as circunstâncias pelas quais cada um dos nomes aparece no documento.
Além dos ministros citados na Lava Jato, dois outros nomes do primeiro escalão do novo governo já estiveram no meio de esquemas de corrupção. Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro-chefe da Casa Civil, foi de acusações de irregularidades no pagamento de precatórios quando foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, mas sempre negou. Já o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil Maurício Quintella foi condenado em agosto de 2014 por participação em um esquema que desviou dinheiro destinado ao pagamento de merenda escolar em Alagoas, entre 2003 e 2005, quando era secretário de Educação do Estado.
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