"Ministros do STF fizeram piada nesta quarta (6) sobre a possibilidade de serem impedidos de entrar nos EUA após a vitória de Donald Trump", escreveu a colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo. Os desavisados podem até acreditar nessa tentativa de aparentar naturalidade e tranquilidade entre os ministros do Supremo, mas a verdade é que a vitória expressiva de Trump vai tirar o sono de vários deles nos próximos quatro anos.
O mais afetado pela insônia deverá ser, sem dúvida, o ministro Alexandre de Moraes. Afinal, ele resolveu comprar uma briga com Elon Musk, o homem mais rico do mundo, quando incluiu Musk no inquérito das milícias digitais, após o bilionário se recusar a obedecer decisões ilegais de Moraes que ordenavam a censura de cidadãos brasileiros e americanos. Mas isso foi apenas o começo: nos meses seguintes, Moraes se dedicou a provar sua superioridade sobre Musk em um confronto que ganhou as manchetes políticas no Brasil e no mundo.
Moraes multou a plataforma X em quase R$ 30 milhões, ameaçou prender a equipe de funcionários da empresa no Brasil, bloqueou o patrimônio da Starlink, subsidiária da SpaceX, e ordenou o banimento do X do Brasil por dois meses, em pleno período eleitoral. Além disso, incluiu Musk em um novo inquérito no STF por uma suposta ameaça após o empresário postar uma foto de Moraes atrás das grades. Moraes também atrasou o retorno da rede ao Brasil, impondo novas condições, e chegou a atacá-lo publicamente, chamando-o de "mercantilista estrangeiro que trata o Brasil como colônia" em um evento no Museu da Democracia.
Na ânsia de demonstrar poder sobre Musk, Moraes não se atentou para o fato de que Musk estava discretamente apoiando a reeleição de Trump, inicialmente com publicações no X e, mais tarde, com doações milionárias à campanha do republicano, chegando a sortear um milhão de dólares por dia para eleitores indecisos nos estados-pêndulos, entre 19 de outubro e o dia das eleições. Em setembro, Trump chegou a anunciar que levaria Musk para trabalhar com ele na Casa Branca, caso fosse eleito.
A verdade é que a vitória expressiva de Trump vai tirar o sono de vários deles nos próximos quatro anos
Trump atribuiu a Musk a tarefa de liderar no novo governo uma ampla reforma administrativa, com o objetivo de reduzir o tamanho do Estado e diminuir o déficit público. Em outras palavras, Musk atuará como um "Javier Milei” de Trump, conduzindo uma auditoria nos cargos e salários do governo e promovendo cortes profundos na máquina estatal. Assim, a partir de 20 de janeiro de 2025, data da posse de Trump, Musk pode ter um escritório ao lado do Salão Oval, na Casa Branca.
Musk, a quem Moraes se dedicou a confrontar e desmoralizar, terá agora a atenção e o apoio do homem mais poderoso do mundo, Donald Trump, que, após a vitória, agradeceu Musk pelo apoio na campanha e o chamou de "estrela". É fácil imaginar o que Musk poderá fazer contra Moraes, dispondo não apenas de recursos econômicos praticamente ilimitados, mas também do poder executivo da maior potência mundial. Em comparação ao grande porrete americano, a caneta de Moraes parece apenas um graveto seco.
Além de se tornar braço direito de Trump, Musk terá à disposição o apoio de um Congresso de maioria republicana e uma Suprema Corte com sólida maioria conservadora. Há rumores de que dois juízes conservadores, Samuel Alito e Clarence Thomas, podem se aposentar durante o próximo mandato, o que daria a Trump a chance de indicar dois novos juízes jovens, garantindo uma maioria conservadora por décadas e impactando a política americana por gerações.
Além de Musk, congressistas republicanos que já haviam apresentado projetos contra Alexandre de Moraes, como Darrell Issa e María Elvira Salazar, foram reeleitos. Com o controle do Congresso e maior influência nas comissões, é quase certo que eles intensificarão os esforços contra o regime de censura de Moraes, avançando projetos de lei que permitam cassar vistos e congelar bens de ministros do STF no exterior. Admitam eles ou não, isso tira o sono dos ministros do Supremo, acostumados com suas viagens para cidades chiques como Nova York, Londres, Roma e Paris para eventos ao lado da elite econômica brasileira, formada em parte por ex-investigados e condenados na Lava Jato.
Ao ultrapassar limites legais para fazer prevalecer sua vontade no confronto com Musk, Alexandre de Moraes fez um inimigo poderoso, que já prometeu, em uma publicação, que ainda verá Moraes atrás das grades. O ministro talvez tenha esquecido uma das lições básicas do poder: ele não dura para sempre, o chicote muda de mãos, e sempre há um leão maior na selva. Na selva da política americana, abaixo do leão Donald Trump, agora está o leão Elon Musk. A caçada já começou, e o ministro Alexandre de Moraes já não é mais o predador: agora ele é a presa.
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