É oficial: um dos membros mais importantes da futura gestão Trump no governo americano é um investigado em inquéritos sigilosos e ilegais no Supremo Tribunal Federal (STF). Falo, é claro, de Elon Musk, o bilionário sul-africano dono da Tesla, SpaceX e da rede social X. Após ser peça-chave na campanha vitoriosa de Trump, Musk agora chefiará, ao lado do também bilionário Vivek Ramaswamy, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
Trump cumpriu a promessa feita a Musk em setembro: se eleito, daria a ele o comando da administração federal para reduzir ao máximo a máquina estatal e buscar eficiência. A proximidade entre Musk e Trump tem sido tamanha que, desde a vitória, muitos analistas políticos têm chamado Musk de “vice-presidente virtual dos Estados Unidos”, dado seu poder e influência junto a Trump.
A pergunta é: será que o homem mais poderoso do mundo sabe que seu braço direito é oficialmente investigado pelo ministro Alexandre de Moraes em inquéritos sigilosos no STF? Em abril, Moraes ordenou a inclusão de Musk no inquérito das milícias digitais, alegando uma suposta “instrumentalização criminosa” do X para difundir ataques à corte. Moraes também abriu um novo inquérito para investigar Musk por obstrução de justiça e organização criminosa, baseando-se em uma suposta conspiração da “extrema-direita global” para derrubar a democracia.
A proximidade entre Musk e Trump tem sido tamanha que, desde a vitória, muitos analistas políticos têm chamado Musk de “vice-presidente virtual dos Estados Unidos”
Se Musk, agora oficialmente um "ministro" do governo americano, faz parte de uma conspiração global de extrema-direita, o que dizer de seu chefe, Donald Trump, hoje a figura mais influente da direita mundial? Afinal, como a “organização criminosa” da “extrema direita global” incluiria Musk e não Trump? Se Moraes estiver certo, o próximo passo seria incluir Trump no inquérito e acionar o aparato policial e judicial brasileiro contra o presidente-eleito dos Estados Unidos. Mas será que Moraes faria isso? É claro que não: como escrevi em minha última coluna, comparado ao poder americano, a caneta de Moraes é um graveto seco.
Agora, resta saber quais serão os próximos passos de Moraes: arquivará os inquéritos contra Musk antes de 20 de janeiro de 2025, data da posse de Trump, ou manterá Musk como investigado no STF? Seja qual for a decisão, o cenário não é nada favorável a Moraes. Além da reeleição de deputados americanos que atacam os abusos de Moraes, como Maria Elvira Salazar, Darrell Issa e Chris Smith, Trump tem feito novas nomeações para o gabinete que certamente preocupam Moraes.
A principal delas é a de Marco Rubio, senador republicano pela Flórida, que será o próximo Secretário de Estado americano. O Departamento de Estado, que chefia a diplomacia americana, terá, pela primeira vez, um latino na posição. Filho de cubanos que fugiram do regime sanguinário e assassino dos irmãos Castro, Rubio é notório por sua oposição a ditaduras latino-americanas e ao comunismo.
A situação piora para Moraes: em setembro, após o STF banir o X do Brasil, Rubio emitiu uma declaração oficial chamando Moraes de “autoritário” e alertando que suas ações colocam em risco as relações bilaterais entre Brasil e EUA. Com outros parlamentares, Rubio também assinou uma carta ao Secretário de Estado Anthony Blinken, pedindo a cassação do visto de Moraes e dos demais ministros do STF, devido a violações de direitos humanos.
O pedido foi endereçado ao Departamento de Estado por um motivo simples: é essa instituição, junto ao Departamento do Tesouro, que detém o poder de impor sanções a autoridades estrangeiras que violam direitos humanos. As sanções podem incluir cassação de visto, proibição de entrada nos EUA, bloqueio de bens e restrição de negócios com empresas e cidadãos americanos. E é esse Departamento de Estado que agora ele mesmo vai chefiar.
Outro parlamentar que assinou a carta foi o senador Rick Scott, possível próximo líder da maioria republicana no Senado, que agora tem controle do Congresso. O Senado, que é a Casa Legislativa tradicionalmente responsável pela política externa em colaboração com o Executivo, pode em breve ser liderado por Scott, que é apoiado por Elon Musk.
O saldo é este: Donald Trump na posição mais poderosa do mundo, com Elon Musk ao seu lado como chefe do Departamento de Eficiência Governamental; Marco Rubio como Secretário de Estado, com um alvo em Moraes; e, potencialmente, Rick Scott na liderança do Senado, também atento ao ministro que, até recentemente, se orgulhava de ter “derrotado” Musk. Não sei se Moraes já comprou o rivotril para ajudá-lo a dormir nos próximos quatro anos, mas vai precisar.
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