O público se encheu de expectativa quando Michael Mann, diretor de filmes como “Colateral” (2006) e “O Informante” (1999), anunciou que iria se aventurar no mundo da televisão para produzir Luck. A vontade de ver a série só aumentou com as contratações de nomes como Dustin Hoffman e Nick Nolte para o elenco. Isso sem contar os roteiros de David Milch, criador de “Deadwood” e “NYPD Blue”.
Quem assistiu à série, que estreou ontem no canal pago HBO, sabe que o barulho provocado pelo programa não é exagero. O piloto, dirigido pelo próprio Mann, apresenta o espectador ao complexo universo das corridas de cavalo. Apostadores, treinadores, corredores, veterinários e empresários são alguns dos personagens que povoam o seriado. São tipos angustiados, traiçoeiros e ambiciosos.
O mais leigo é capaz de se fascinar com as microtragédias gregas que são apresentadas no primeiro episódio. São situações que sutilmente mostram a violência de pessoas determinadas a ganhar, como é o caso do treinador vivido por John Ortiz, de “O Gângster” (2007).
Dustin Hoffman vive um homem amargurado por ter passado três anos na cadeia depois de assumir a culpa de acusações contra a máfia. Dennis Farina interpreta seu braço direito. Nick Nolte, por sua vez, vive outro treinador, benevolente e amante dos cavalos com que trabalha. Em vários momentos do piloto, o personagem trava monólogos existenciais sobre sua própria profissão.
O modo como o mundo do jockey prende o espectador lembra o efeito gerado pelos primeiros episódios de E.R.. A linguagem técnica e as longas cenas ambientadas dentro das salas de atendimento de emergência podiam ser incompreensíveis, mas fascinavam como duelos medievais por mostrar – com certo grau de realismo – pequenas batalhas do cotidiano de médicos e enfermeiros.
Além de um bom roteiro, Luck também tem uma concepção visual impressionante. As cenas de corrida são filmadas com proximidade e velocidade. A mão de Mann é visível. Especialmente pela fotografia digital, que marcou os filmes que dirigiu na última década. A iluminação, por exemplo, é natural, o que aumenta a sensação de realismo.
A série mal estreou nos Estados Unidos e já garantiu uma segunda temporada. A qualidade do enredo, direção e atuações já estão gerando comparações com Família Soprano. Se o futuro da série produzida por Michael Mann for o mesmo da estrelada por James Gandolfini, estamos diante de um dos maiores eventos televisivos desta nova década.
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