O G ideias desta semana traz uma reflexão sobre o trabalho dos chargistas. Parte fundamental da opinião nos jornais. Uma linguagem ácida e bem humorada para questionar e fiscalizar a sociedade.
Tomo a liberdade de reproduzir aqui o depoimento de Ademir Vigilato da Paixão colhido por Helena Carnieri, pois acho genial a humildade deste que é, sem dúvida, um dos melhores do Brasil. Vale conferir.
Descobri muito cedo que meu destino estava traçado – ou melhor, o traço estava no meu destino, enquanto fazia meus brinquedos com argila do córrego. Isso quando não estava pulando na água do sítio onde morava com minha família de agricultores no município de Japira, no norte do Paraná. Tinha sete anos quando entrei na escola do bairro e trocava meus desenhos por merendas dos outros alunos.
Aos nove… ou dez, descobri que, tendo uma família bastante religiosa, eu poderia ganhar dinheiro ou objetos trocando ou vendendo desenhos de santos. Foi quando, aos 14 anos, fui contratado para pintar santos na igreja do bairro vizinho.
Aqui em Curitiba não foi diferente. Sempre tentando trabalhar com desenhos – e tudo isso sem quase um puto no bolso. Tentando trabalhar com alguma coisa que envolvesse o desenho era só o que eu sabia fazer. Para aprimorar minha pintura e desenho, tive bons professores.
Me achava um artista plástico com alguns quadros debaixo do braço. Fiz algumas exposições também, achava que iria ficar famoso, ganhar muito dinheiro vendendo meus quadros… Não vingou. Eu não tirava nem para comprar tintas para a próxima tela.
Foi aí que deixei a pintura de lado e passei a trabalhar com ilustrações para agências de publicidade. Desenhava de tudo: desenho mecânico, ilustrações de livros, apostilas, fazia minhas caricaturas na feirinha hippie da Praça Garibaldi… naquele tempo ela era realmente hippie.
Como achava também que fazia bem caricaturas, pensei em publicá-las em algum jornal. Me achando um chargista, não sabia que existe uma distância muito grande entre a caricatura e a charge. Também não sabia que, para ser um bom chargista, precisa primeiro ser um bom jornalista. Saber qual a notícia relevante que vai estar nas manchetes do dia seguinte, passando uma informação precisa, humorada e uma crítica, dando uma alfinetada, principalmente nos políticos caras de pau que temos, e tentando valorizar o leitor – que é nosso patrão. Já são vinte e seis anos ilustrando a Gazeta do Povo.
Ademir Paixão, chargista.
O design é de Osvalter Urbinatti Filho
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