“Meia-Noite em Paris” é um filme, em grande parte, sobre a vanguarda que dominou e assustou a Europa nos anos 20 do século passado. A partir de hoje, vou colocar aqui algumas coisas que o filme mostra, ou para mostrar coisas que passam meio batidas, ou simplesmente porque são boas demais.
Começamos com Picasso e Gertrude Stein. Quem viu o filme notou que já na primeira cena em que os dois aparecem, estão brigando. A escritora está dando uma bronca em Picasso por fazer um quadro exageradamente sensual de sua namorada da época.
Na verdade, os dois viveram mesmo às turras. E a partir de 1927 Picasso não falaria mais com Gertrude Stein. Os dois romperam quando pintor Juan Gris morreu.
Mas, antes disso, Miss Stein posou quase cem vezes para o famoso quadro em que Picasso a retratou. A tela, aliás, aparece no filme, na própria casa da escritora.
No seu livro “A autobiografia de Alice B. Toklas”, Gertrude Stein conta como o quadro foi pintado. O trecho é em terceira pessoa porque ela finge que a história é contada por Alice, sua companheira durante 25 anos.
“Ninguém tinha posado para Picasso desde que ele tinha 16 anos. Ele estava então com 24 anos e Gertrude nunca tinha pensado em ter seu retrato pintado, e nenhum deles sabia como aquilo iria sair. De qualquer modo, saiu, e ela posou para esse retrato noventa vezes. Havia uma grande cadeira de braços quebrada em que Gertrude Stein posava. Havia um sofá onde todo mundo sentava e dormia. Havia uma pequena cadeira de cozinha em que Picasso sentava e pintava. Havia um grande cavalete e muitas telas. Ela fazia a pose, Picasso sentava muito reto em sua cadeira e muito poerto de sua tela e com uma palheta muito pequena, que era de uma cor marrom acinzentada, misturava mais um pouco de marrom e de cinza e a pintura começava. De repente um dia Picasso pintou a cabeça inteira. Eu não posso mais ver você quando eu olho, ele disse irritado, e então o quadro foi deixado daquele jeito.”
Dizem que quando falavam para Picasso que Gertrude Stein não se parecia com o retrato, ele respondia. “Ela vai parecer.”
O quadro hoje está no museu Metropolitan, em Nova York.
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