Pode parecer tolo, e talvez seja. Mas eu sinceramente acredito que há muita verdade nos versos finais de uma letra de Renato Russo. É “Há tempos”, a música, uma de minhas favoritas da Legião Urbana. Verdades para ser levadas a sério mesmo, para a vida. E vou tentar explicar isso aqui em alguns posts.
Quem quiser, claro, pode pular. E pode achar o blogueiro um tolo por levar a sério uma letra de rock. Mas, fazer o quê? Cada um pensa como quer, não?
O próprio Renato Russo deu entrevistas no fim da vida dizendo esperar que os fãs se dessem conta de que aquelas três afirmações eram essenciais. Mas, final, vamos a eles:
“Disciplina é liberdade,
ter bondade é ter coragem,
compaixão é fortaleza”
O primeiro deles, que é o assunto de hoje, talvez seja o que parece mais paradoxal à primeira vista. Todo mundo, depois de 1968, principalmente, está acostumado a pensar em liberdade no, digamos, “sentido negativo”. Ou seja: “é proibido proibir”. Liberdade é fazer o que você quiser. E, portanto, se alguém proibir qualquer coisa que seja, está tirando liberdade,
Faz sentido, e não é que esteja errado. Como dizia uma célebre camiseta dos anos 80: “liberdade é passar a mão na bunda do guardinha”. Quanto mais ousado fosse o ato, maior a prova de que você é livre. Livre, inclusive, para fazer o que é “errado”. A ideia, sempre, foi sair de um passado visto como repressor. Era o ideal ainda da “juventude transviada”, que queria se exceder para provar que não tinha limites.
Mas existe um outro sentido para liberdade. Que, para manter a coerência, seria o “sentido positivo”. Nesse caso, ser livre é também fazer o que você quer. Mas, aqui, entende-se a liberdade como algo conquistado a duras penas, internamente, com esforço e… disciplina.
A ideia é que você só é realmente livre se você não obedecer a nada que não seja o que você escolheu. Atender a seus impulsos, a suas vontades e desejos, ainda que sem limites, não é ser cem porcento livre. É, em alguma medida, ser escravo do desejo.
Para ser livre, é preciso saber dominar a si mesmo. Escolher o seu ideal e ir atrás dele, mesmo sabendo que em certa medida você terá de abrir mão de coisas prazerosas. É o caso de um atleta: em nome de seu melhor desempenho, ele abre mão de fins de semana, de descanso, de cigarro e de álcool. E é, assim, livre para fazer o que de melhor conseguir.
A liberdade exige disciplina. Viver fazendo de tudo que se quer não é ser totalmente livre. Renato Russo, sim, tinha razão.
Siga o blog no Twitter.