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Jorge Luis Borges, 25 anos depois

Colección Jorge Luis Borges/Fundação San Telmo
Borges, com a mãe, Leonor: mito da literatura latino-americana.

Provavelmente o maior escritor latino-americano de todos os tempos, Jorge Luis Borges morreu há 25 anos, em junho de 1986.

O jornal espanhol El País publica neste sábado texto mostrando que o argentino continua sendo lido compre, discutido como nunca e que o vigor literário de sua obra segue o mesmo.

Não é pouca coisa. Os primeiros contos de Borges foram publicados há quase cem anos, na década de 1920. Saíram em jornal, como parte de suplemento literário. E o fato de continuarem impressionando um século depois diz algo sobre o escritor.

Curiosamente, em suas primeiras narrativas, Borges não tinha nada do estilo “fantástico” que o deixaria mais tarde famoso, como em “Ficções”.

As primeiras histórias dele são quase secas, sobre fatos plausíveis. Muitas vezes, eram versões de histórias já publicadas em outros lugares.

Mas basta ver o início do primeiro conto de “História universal da infâmia”, seu livro de estreia, para entender que, fosse ou não parte de um movimento fantástico, fosse ou não criador da trama, Borges tinha algo a dizer.

O conto se chama “O atroz redentor Lazarus Morell”. Borges quer mostrar a história de um negro na América. E veja como ele introduz a cena:

“Em 1517, o padre Bartolomé de Las Casas compadeceu-se dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro antilhanas, e propôs ao imperados Carlos V a importação de negros, que se extenuassem nos laboriosos infernos das minas de ouro antilhanas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos infinitos fatos: os blues de Handy, o sucesso alcançado em Paris pelo pintor-doutor uruguaio D. Pedro Figari, a boa prosa agreste do também oriental D. Vicente Rossi, a dimensão mitológica de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra da Secessão, os três mil e trezentos milhões gatos em pensões militares, a estátua do imaginário Falucho, a admissão do verbo linchar na décima terceira edição do Dicionário da Academia Espanhola, o impetuoso filme Aleluya, a fornida carga de baionetas levada por Soler à frente de seus Pardos y Morenos em Cerrito, a graça da senhoria de Tal, o negro que assassinou Martin Fierro, a deplorável rumba El Manisero, o napoleonismo embargado e encarcerado de Toussaint Louvertoure, a cruz e a serpente no Haiti, o sangue das cobras degoladas pelos papaloi, a habanera mãe do tango, o candomble.

Além disso, a culpável e magnífica existência do atroz redentor Lazarus Morell”

Não é impressionante? Ele reconta toda a história dos negros no continente, desde a escravidão, passando pelas guerras, sofrimentos, a contribuição artística e, depois, como se não fosse nada, coloca seu personagem no meio. Dá a Morell, assim, desde o início, uma dimensão mítica, que de nenhum outro jeito conseguiria.

A história que vem a seguir é baseada em Mark Twain, mas contada sob a ótica de Borges.

Vinte e cinco anos depois, fica aí a pequena homenagem.

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