Em meados dos anos 80, Paul Auster era um tradutor e editor que queria começar a publicar seus próprios livros de ficção. Seu primeiro sucesso foram três histórias curtas sobre detetives que, reunidas, formam até hoje seu livro mais famoso: “A Trilogia de Nova York”.
Cada uma das história conta um caso detetivesco. Mas, claro, Auster é conhecido como um autor “pós-moderno”, e suas histórias de detetive não são daquelas tradicionais, em que o que importa é descobrir quem fez o quê.
Começando pela primeira. “Cidade de vidro” foi a primeira parte a ser publicada. E conta uma história estranhíssima, que envolve um professor meio maluco que, supostamente, quer matar um filho que ele manteve distante do mundo.
Teria feito isso só para ver que efeito a coisa teria sobre o desenvolvimento do menino. Especialmente da linguagem: como alguém que não fala com ninguém aprende a falar?
A parte detetivesca começa quando alguém liga para o protagonista da história, Quinn, pedindo que ele siga o pai do menino, para evitar que ele mate o garoto. Quinn, porém, não é detetive. Ele é um autor de novelas de detetives. O verdadeiro detetive que a pessoa estava procurando, vai se descobrir depois, se chama “Paul Auster”…
Ok. Típica gracinha pós-moderna, não? Mas o que se vê daí por diante é uma história bem contada, que se desenvolve de maneira inesperada e que tem um certo charme narrativo.
E, na verdade, todo o texto é uma longa metáfora ao bom e velho Dom Quixote de La Mancha. Quinn, o escritor-detetive, assim como o personagem de Cervantes, leu tantos livros de mistérios que, de repente, se vê em meio a um deles.
E por isso não é de espantar que o neo-detetive acabe no meio do livro vivendo dentro de uma caçamba de lixo só para poder melhor fazer campana em frente à casa de seu objeto. É como se ele estivesse combatendo moinhos de vento, ou rebanhos de ovelhas… Só que “detetivescamente”.
Serviço: “A Trilogia de Nova York” está disponível no Brasil em tradução de Rubens Figueiredo, editada pela Companhia das Letras.
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