A coisa mais terrível sobre “As bruxas de Salém” é saber que se trata, em boa parte, de uma história real. Se você lesse a peça (ou assistisse) imaginando como uma obra de ficção, já provavelmente acharia chocante. Sabendo que aconteceu de verdade, não há como não se importar.
A história aconteceu nos Estados Unidos, em Massachssets, em 1692. Foi um julgamento brutal de várias pessoas que, segundo se entendia, estariam ligadas a bruxarias e envolvidas com o demônio.
Tem muito a ver com o espírito puritano que dominava parte das colônias inglesas na época. Isolados do mundo, vivendo numa sociedade em que todos tinham basicamente as mesmas crenças religiosas, havia uma confusão entre Justiça humana e julgamento religioso.
A história começa depois que várias meninas (umas bem novas, outras mais velhas) fizeram um ritual na mata próxima a Salém. Queriam saber sobre namoros e prender namorados, coisas do gênero. Junto com elas, havia uma escrava negra, supostamente versada em rituais mágicos.
Quando se descobre isso, as meninas começam imediatamente, para livrar sua pele, a acusar pessoas que estariam levando o demônio a Salém. Elas estariam enfeitiçadas e outras pessoas seriam as culpadas.
A expressão “caça às bruxas” tem tudo a ver com o clima da peça. O perito encaminhado à cidadezinha começa a literalmente querer saber quem são as bruxas que atraíram um mal tão grande para a região.
Tudo vira indício de participação em rituais terríveis. Uma mulher é presa sob a acusação de não deixar (por poderes sobrenaturais, claro) que seu marido se concentrasse na leitura da Bíblia.
A história se desenrola de maneira que, em breve, dezenas de pessoas são condenadas por participação em artes demoníacas. Boa parte delas é assassinada, depois de julgamentos que, hoje, nos parecem bem pouco justos.
Arthur Miller teve a ideia de escrever o livro depois de ver o macarthismo dominar os Estados Unmidos dos anos 1950. Quis fazer algo que servisse de metáfora para a “caça aos comunistas” que acontecia na Guerra Fria. E foi achar no século 17.
Acabou se tornando um clássico, e não foi à toa.
Serviço:
Acho que a única tradução que é vendida atualmente no Brasil é a de José Rubens Siqueira, para a Companhia das Letras. Faz parte do livro “A morte de um caixeiro viajante e outras quatro peças”.
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