David Foster Wallace, o mentor de toda uma geração de novos escritores norte-americanos, só tem um livro publicado no Brasil até hoje (sabe-se, porém, que isso vai mudar). Chama-se “Breves entrevistas com homens hediondos”. E é um livrão daqueles.
É uma coletânea de contos. Uns muito diferentes dos outros. Alguns podem até não ser tão bons quanto outros. Mas os que são bons, são muito bons. Há pelo menos uns quatro ou cinco candidatos a clássicos absolutos. E isso não é pouco.
O título vem de uma série de pequenas histórias espalhadas ao longo do livro. Sempre sob o mesmo título, contam-se casos de homens e suas perversões, erros ou crueldades. Há pontos épicos.
Meu favorito é o do homem que conta a história de seu pai. Um sujeito que passou a vida trabalhando dentro de um banheiro público, em um hotel. “Imagine você não existir até que alguém precise que você exista”, diz o filho, para dar uma ideia de como imagina a vida do pai, entre odores e barulhos, descritos com detalhes, do banheiro de hotel.
Foster Wallace, que se matou em 2008, era filósofo de formação. E isso transparece maravilhosamente em alguns contos. Como, por exemplo, numa das “breves entrevistas”, em que um sujeito começa a contar uma história terrível. De agressão física. De violência pura.
Ele tenta explicar para a entrevistadora (que nunca aparece nas histórias) como é que, de certo ponto de vista, uma experiência terrível pode deixar marcas que nem sempre se cogitam. Como a de um estupro. Que poderia fazer a pessoa pensar diferente sobre o mundo. Ver como é a vida depois que te enxergam como um objeto.
A história toma tons assustadores. Mas Foster Wallace consegue ir colocando perguntas, na boca do personagem, que fazem realmente você pensar sobre o efeito de uma tragédia como talvez você nunca tenha pensado antes.
Começa a fazer perguntas como: e se essa história que eu contei sobre a moça estuprada não for sobre uma moça? E se aconteceu comigo?
Uma das genialidades dos contos (além da forma, mas essa é história para outro post) é o fato de que dificilmente as histórias se concentram em um fato. A ideia é contar uma vida toda por meio de uma única situação. Vislumbrar uma vida num insight.
Por exemplo, como no caso do conto “A pessoa deprimida”. Foster Wallace não quer contar um telefonema que uma mulher deprimida dá para uma amiga. Ele quer contar quem é aquela mulher. E por meio dela mostrar quantos de nós somos assim, talvez.
E ao invés de contar algo com começo, meio e fim, ele se alonga sobre o caso, pensativamente, quase como se alguém estivesse longamente olhando para a mesma foto, por muito tempo, e descobrindo detalhes nela.
É coisa de primeira. Vale ler. Ou, como dizem por aí, fica a dica…
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