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Poucas pessoas fizeram tanto para mostrar o horror da bomba atômica quanto o repórter John Hersey. Seu relato sobre os efeitos da bomba em Hiroshima ainda hoje é um alerta para o mundo sobre o tipo de consequências que a energia nuclear pode ter.

Neste fim de semana, foi celebrado mais um aniversário da bomba sobre Hiroshima. Em 6 de agosto de 1945, o Enola Gay lançava a destruição sobre a cidade de 245 mil habitantes.

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Muito se discute hoje se isso apressou o fim da guerra no Pacífico; se isso ajudou a salvar outras vidas; até mesmo se evitou uma guerra nuclear, por ter criado o terror em todas as partes que poderiam iniciar um conflito desse gênero.

Mas as bombas de Hiroshima e Nagasaki não podem ser vistas apenas como um caso de geopolítica, como parte da História. Elas têm de ser lembradas também pelo seu significado para quem sentiu seus efeitos mais diretamente. Para quem viveu o horror naquele momento.

Esse é o trabalho de John Hersey. Em 1946, um ano depois da bomba, ele foi a Hiroshima. Conheceu a cidade e, principalmente, falou com os sobreviventes.

Escolheu seis histórias para contar. E relatou o seu drama para a revista New Yorker, que dedicou toda a edição de 27 de agosto daquele ano para a reportagem.

O texto é deliberadamente calmo. “O estilo monótono é deliberado e eu ainda acho que eu estava certo ao tomar essa decisão. Um estilo mais literário, ou uma mostra de paixão teriam me colocado como mediador na história. Eu queria evitar essa mediação, para que a experiência do leitor fosse tão direta quanto possível.”

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O livro começa contando o que aquelas seis pessoas estavam fazendo no momento em que o clarão apareceu no céu, às 8h15 da manhã. Um pastor, um reverendo, médicos, trabalhadores. Todos descobrem de uma hora para outra que a cidade em que viviam sofreu algum abalo terrível. Mas não sabem o que aconteceu.

Esse é um dos pontos mais chocantes do livro: perceber como aquelas pessoas nem sabem o que as atingiu. Nunca tinham imaginado a possibilidade de uma bomba nuclear sobre suas cabeças.

Apenas veem crianças sangrando, pessoas sem membros, construções desabando, milhares de mortos. Quantas bombas jogaram? Ninguém imaginava que seria apenas uma.

As histórias são terríveis, como se pode imaginar. Como a mãe que continua segurando um bebê morto, sem coragem de deixá-lo para trás. Como os habitantes todos procurando água, ou árvores, achando que perto de um bosque, por exemplo, teriam mais chance de sobreviver.

O livro conta também como a cidade sobreviveu sem metade dos médicos, que acabavam de morrer, sem quase todas as suas enfermeiras.

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Hersey não se preocupa em dar destaque para números, dados oficiais. Quer contar a história dos sobreviventes. O que pensaram, o que sofreram. Como sobreviveram.

O livro é absolutamente necessário como documento histórico. Só percebendo o tamanho do horror que uma bomba desse gênero causa mé possível entender o quanto precisamos nos esforçar para que isso nunca mais se repita.

Na segunda parte do livro, mostrando a vida dos mesmos sobreviventes 40 anos depois, Hersey insere pequenos trechos mostrando na evolução dos artefatos atômicos pelo mundo.

Mostra que mais e mais países desenvolveram e testaram a bomba. Uma bomba cada vez mais poderosa. Cada vez capaz de causar a mais gente o mesmo dano que causou aos habitantes de Hiroshima e de Nagasaki.

Um fato de que nem você nem eu podemos, nunca, nos esquecer.

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Serviço: O texto está disponível em português, em tradução de Hildegard Feist, pela Companhia das Letras.

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