Viver no sul dos Estados Unidos, ainda mais no século 20, era ter a obrigação de conviver com o racismo. Ser escritor e viver lá implicava quase a obrigação de retratar a situação.
William Faulkner, talvez o maior artista do Sul dos EUA, não fugiu à regra. “O Intruso” é uma longa discussão sobre o racismo, embora disfarçada de uma novela policial.
O romance começa já no meio da ação policial:
“Era meio-dia em ponto de domingo quando o xerife chegou à cadeia com o Lucas Beauchamp, e toda a cidade (e também todo o condado) já sabia desde a noite anterior que o Lucas tinha matado um branco.”
Lucas é um negro. E a partir daí vira um sujeito pmarcado para morrer. A família da vitima, a típica família de fazendeiros racistas da região, quer linhcar o negro.
Ele só não é morto porque o delegado, um legalista, trancafia o acusado numa cela e mantém o negro sob proteção policial – o que desagrada tremendamente os que querem vingança.
A partir daí a história se transforma numa saga para provar a inocência de Lucas. Um menino branco, que confia nele, passa a fazer o papel de “detetive”, indo até a cova para mostrar que a suposta vítima não havia nem morrido.
A trama é excelente. Mas o principal não é isso. O mais importante no romance é a discussão sobre brancos e negros. Dizem que Faulkner escreveu o livro como resposta a outro romance sobre o tema, da época. Que não parece ter sobrevivido ao tempo.
A teoria de Faulkner acaba sendo que os sulistas brancos vão ter de se adaptar a um mundo multirracial. Mas que não adiantava as pressões virem de fora: do governo, por exemplo. Era uma situação que o Sul tinha de resolver por si mesmo.
O livro é todo construído na técnica do fluxo de consciência — quase num estilo de James Joyce. A ideia parece ter sido de dar voz aos personagens para mostrar aquele mundo por dentro, a partir da visão dos próprios personagens, de quem viveu aquela história.
é um tremendo documento histórico. Além, claro, de ser uma bela trama. E de ter o text, absolutamente fantástico, de Faulkner.
Serviço: O Círculo do Livro lançou no Brasil uma tradução de Leonardo Fróes. Não está em catálogo, mas pode ser encontrando em sebos ou em sites tipo Estante Virtual. (Achei até uma cópia num sebo de Curitiba, para quem quiser correr e ver.)
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