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Henry James é uma das glórias da literatura norte-americana. E, no entanto, é um dos menos “americanos” dos escritores do país. Não só por ter se mudado para a Inglaterra e conseguido cidadania britânica: a escrita de James é tipicamente européia e tem mais a ver com seus contemporâneos da França do que dos Estados Unidos, por exemplo.

James é um descendente direto dos escritores que vinham baseando suas tramas na descrição psicológica dos personagens, muito mais do que na ação em si. Ou seja: Voltaire, por exemplo, escreveria um romance com uma engrenagem baseada em fatos. É possível contar a história de Cândido, ou o Otimismo, contando uma série de fatos. Uma coisa puxa a outra e o enredo não para nunca: é como se os personagens fossem levados pelos acontecimentos inusitados com que se deparam.

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Na Europa do século 19 isso começa a mudar. Balzac já escrevia romances em que, embora a trama fosse forte, o caráter dos personagens é que movia o livro. A história de As ilusões perdidas é muito mais uma história da mudança de psicologia do jovem jornalista que sai do interior para fazer a vida na capital do que uma série de fatos exóticos.

Flaubert e os russos levariam isso mais longe. Às vezes, os livros se baseiam quase nada em fatos. A história passa a ser contada a partir do que aconteceria “naturalmente” com alguém que tem essas e aquelas características. E as tramas vão ficando menos mirabolantes, mais parecidas com o dia a dia. Pega-se uma pessoa interessante e tenta-se entender o que seria a vida dela.

Embora os escritores americanos da época estivessem interessados ainda em histórias de aventura (Melville e a baleia; Poe e seus mortos que voltam a viver; Stephen Crane e a guerra), Henry James vai escrever romances “europeus”.

O Retrato de uma senhora
é um exemplo. O livro, longuíssimo, é uma novela em que se pega a história de uma americana endinheirada que se vê indo para a Europa. Uma moça encantadora, bonita, jovem, cortejada por todos (claro, era o que as moças queriam ler…). O que seria dela.

James escreve assim. Imagina que conheceria os primos ricos e aristocráticos. Que conheceria gente aproveitadora querendo seu dinheiro. Que conheceria uma feminista que tentaria livrá-la dos caçadores de fortuna. Que pensaria dias e dias sobre qual era a escolha certa de marido (ou mesmo se deveria se casar).

E o livro segue essa moça, Isabel Archer, por anos a fio, correndo dos Estados Unidos para a Europa, conhecendo a cidade grande, vivendo com a alta sociedade (pobres não têm vez com Henry James) e vivendo uma vida que as leitoras sofriam tentando imaginar.

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Não é exatamente um romance psicológico. James não quer torturar o leitor com explicações ou teorias. É um romance de personagem. É a história (idealizada, ainda) de como se vivia em um tempo: o que movia as pessoas (amor? romance? dinheiro), quais os seus problemas e, principalmente, como eram seus dias.

James entrou para a história como um romancista da aristocracia. Mais precisamente, como um retratista, como um observador inteligente da parte endinheirada da sociedade de seu tempo. Não é à toa que um de seus principais livros tem justamente esse nome. “Retrato”. Era o que ele sabia fazer melhor.

Serviço:

A Companhia das Letras tem uma tradução de Gilda Stuart para o português. Veja mais aqui.

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