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Moby Dick: um livro sobre religião?

Internet/Reprodução
Gregory Peck, no papel de Acab.

Uma das muitas “camadas” de Moby Dick é a de símbolos religiosos. O livro é inteiro permeado de histórias bíblicas, a começar pelo símbolo da baleia: durante todo o tempo, Melville lembra a famosa história de Jonas, engolido pela baleia.

Jonas é um dos 12 profetas menores do Velho Testamento. Deveria ir a Nínive, por ordem divina, para repreender os costumes dos assírios. Com medo de morrer, recusa a tarefa e foge.

No barco em que entrou, todos acham que o azar que os persegue, com tempestades quase causando o naufrágio, é devido à presença de um amaldiçoado. Até que descobrem Jonas, que fugiu à ordem de Deus. Para se livrar da maldição, atiram-no ao mar.

Ele é engolido pela baleia. Fica lá três dias, até ser cuspido numa praia de Nínive, onde finalmente, arrependido, cumpre sua missão.

Provavelmente o “maldito” no Pequod (o navio que caça Moby Dick) é o capitão furioso que lhe dá busca, Acab. É a presença dele, misteriosa desde o início, que leva o barco à perdição.

Mas esse não é o único símbolo. O nome do capitão é bíblico também. No começo da viagem aparece um profeta, Elias, que prevê a maldição do barco. Numa punição a marinheiros, três homens são pendurados no navio como se fossem Cristo e os dois ladrões.

Tudo isso (e muito mais) faz bastante gente ver no livro como um todo uma batalha do Bem contra o Mal, ou alguma metáfora religiosa. O New York Times, nesta semana, publicou um artigo (aqui, em inglês), dizendo que a visão de Melville antecipou Nietzsche em algumas décadas.

Eu, pessoalmente, não acho que a baleia é o Mal. Mas acredito que Acab, sim, é um símbolo do que há de profundamente mau dentro de cada um de nós. Um homem transtornado que quer sua vingança acima de tudo. E que, como numa história bíblica, enfrentará o preço de sua fúria.

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