Les Murray tem sido nosso poeta das terças-feiras aqui no blog. O australiano é bom demais. É pena que nem de longe as traduções aqui do blog façam jus ao que ele escreve.
Esta semana, escolhi um poeminha dele bem simpático. Parece que ele está só descrevendo um desenho de criança, feito sobre ele. Navegando sem remos e só impulsionando o barco com as próprias palavras.
Uma bela imagem. Um belo poema.
O quadro de Amanda
No quadro, estou sentado num escudo,
indo nele para casa sobre um rio de sombras.
É um barco metálico pequeno, com forro de casca de ovo
e minhas mãos seguram a borda da amurada. Sou
um arco composto, tensionando o barco todo,
dirigindo-o com meu olhar. Sem remos, sem motor,
sem velas. Impulsiono a embarcação com as palavras.
Os apagados anéis sobre o largo volume da camisa
contam cinco linhas cada, num riscado musical
e a camisa é de um vermelho de maçã, encharcada em brilho de sal
mais líquida do que o rio. Meu boné é uma máscara anil
tão puxada para trás que posso até fingir ser um chapéu.
No meio do rio árvores de teias e avestruzes
do Pacífico Sul, e na praia distante surgem
escuras colinas da zona temperada. Para elas, nesse
momento do desenvolvimento do quadro, meu curso se dirige
mas meus olhos estão nelas. Para relaxar, para falar europeu.
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