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Tomas Tranströmer responde a uma carta só depois de morto

Reprodução/Internet
Tomas Tranströmer.

Mais um poema (dessa vez em prosa) de Tomas Tranströmer, o vencedor do Nobel de Literatura de 2011. A tradução é feita a partir de uma tradução inglesa, de Göran Malmqvist. O poema está num livro chamado “The blue house”.

Resposta a uma carta

Na gaveta de baixo eu encontro uma carta que chegou pela primeira vez vinte e seis anos atrás. Uma carta escrita em pânico, que continua a respirar quando chega pela segunda vez.

Uma casa tem cinco janelas; por quatro delas a luz do dia brilha clara e tranquila. A quinta janela dá para um céu escuro, trovão e tempestade. Eu ifco na quinta janela. A carta.

Às vezes um largo abismo separa a terça da quarta-feira, mas vinte e seis anos podem passar em um momento. O tempo não é uma linha reta. é um labirinto. e se você se encostar na parede, no lugar certo, você pode ouvir os passos apressados e as vozes. você pode ouvir você mesmo passar andando do outro lado.

Aquela carta alguma vez foi respondida? Eu não me lembro, foi há muito tempo. Os inumeráveis umbrais do mar continuaram a vagar. O coração continuou a saltar de segundo a segundo, como o sapo na grama molhada de uma noite em agosto.

As cartas que não foram respondidas se juntam em cima, como pré-colando uma tempestade. Eles obscurecem os raios do sol. Um dia eu vou responder. Um dia quando eu estiver morto e finalmente livre para juntar meus pensamentos. Ou pelo menos tão longe daqui que eu possa me redescobrir. Quando recém-chegado eu ando na grande cidade. Na Rua 25, nas ruas cheias de vento com lixo dançando. Eu que amo passear e me misturar na multidão. uma letra T no corpo infinito do texto.

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