Dizem as boas línguas que Paulo Henriques Britto, carioca, é o melhor poeta que temos hoje no país. Portanto, ando dando uma olhadinha no que ele já fez.
Vi que ele completa 60 anos na próxima segunda, dia 12. E resolvi pôr alguma pequena celebração por aqui.
Achei um belo poema que, imagino, é sobre uma noite de insônia. Veja lá:
VÉSPERA
No trivial do sanduíche a morte aguarda.
Na esquiva escuridão da geladeira
dorme a sono solto, imersa em mostarda.
A hora é lerda. A casa sonha. A noite inteira
algo cricrila sem parar — insetos?
O abacaxi impera na fruteira,
recende esplêndido, desperdiçando espetos.
A lua bate o ponto e vai-se embora.
Mesmo os ladrilhos ficam todos pretos.
A geladeira treme. Mas ainda não é hora.
Se houvesse um gato, ele seria pardo.
A morte ainda demora. O dia tarda.
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