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Adolescendo com meu filho…(III)

Quando ouço alguém falar sobre a adolescência, problemas, dificuldades com filhos, mães reclamando sobre o que fazer, como fazer...Há algo que me chama a atenção e permito-me uma imersão pelas lembranças da adolescente que fui.

Mãos do Antonio e Alexandre

“Diante de um corpo em mutação, precisam construir uma nova identidade e afirmar seu lugar no mundo. Por trás de manifestações tão distintas quanto rebeldia ou isolamento, há inúmeros processos psicológicos para organizar um turbilhão de sensações e sentimentos. A adolescência é como um renascimento, marcado, dessa vez, pela revisão de tudo o que foi vivido na infância.”  A busca da identidade na adolescência | Gestão da … – Nova Escola

Observo Antonio e o percebo cada dia mais autônomo. Já está com 1,52m de altura e daqui a pouco serei a baixinha de casa.

Ao despertar em mim a adolescente que fui pensei em resgatar minhas memórias de 35 anos atrás para que me ajudassem a passar por esta fase com meu filho…Quem se lembra? Eu, muito pouco.

Dada a partida por esta minha amnésia fui reviver na literatura especializada o que se passa na cabeça de um garoto de 11-12 anos… 

Mas pouco do que pude ler torna-se velho pela vivência. Tudo muda muito rápido e quase tudo o que se diz ou se escreve é uma reciclagem.

Saber ouvir, ter paciência, é uma fase onde não são crianças nem adultos, fazer valer a tríade: pai, mãe e filho nesta ordem, porque, enquanto mães somos apaziguadoras, intercessoras, ponderadoras e mais outras “ôras” que descobrirei pelo caminho. Por isto, colocar-se no meio é também ser mediadora.

Antonio decidiu praticar futebol, entrou para o escotismo e estamos caminhando bem entre poucas rusgas e alguns conflitos.

Passa a raiva, que passa logo com um beijo, que passa por um abraço bem enlaçado, ou mesmo um pedido de desculpas e assim, juntos, conseguimos construir uma via de mão dupla.

Diferente?…Sim, muito! Da adolescente que fui. Outros tempos, outras táticas outros meios de comunicação.

Regras claras e horários para tarefas escolares, IPad, jogos eletrônicos, passeios, visitas a casa de amigos e nossos compromissos familiares. Como diz Antonio: ” – ‘Tamo de boa na lagoa!”

Aprender a adolescer com Antonio tem suas riquezas…

Há alguns anos, assistindo uma palestra com Sr. Carlos de São José, ouvi-o dizer para prestarmos atenção ao tom de voz que usamos para falar com as pessoas.

Naquele dia, um sinal de alerta acendeu na minha cabeça e até hoje ele aparece quando percebo que há variações sobre o mesmo tom. 

Então, aprendi que mudar o tom, muda também a cor da conversa que quero ter com meu filho.

Quando ouço alguém falar sobre a adolescência, problemas, dificuldades com filhos, mães reclamando sobre o que fazer, como fazer…Há algo que me chama a atenção e permito-me uma imersão pelas lembranças da adolescente que fui.

Se posso dar um conselho, feche os olhos e veja-se adolescente, inverta os papéis por um instante, lembre-se, faça um esforço de memória, para tatear suas sensações do ou da adolescente que foi. Como é que lidava com elas…O que sentia.

No meu caso, imagino-me  em momentos de conflito entre  a autoridade do meu pai e as concessões da minha mãe. Passa por mim as ordens que eu contestava e as respostas mal educadas que muitas vezes devolvia ou algumas grosserias que gratuitamente trocava…

Vejo-me no “sofrimento” por não ter um pedido, um desejo, um sonho atendido. Lembro-me de quantas vezes também dei as costas, bati o pé e chorei para ter o que eu queria.

A fase de adolescer é a mesma para todos os adolescentes de agora ou de anos atrás. Muda-se o cenário, muda-se o adolescente, mas os conflitos são muito parecidos. Os limites, as conversas, os cuidados. É a fase de construir uma nova identidade… Qualquer livro começa dizendo isto.

Então, onde foi que nós perdemos a nossa identidade adolescente? Em que gaveta deixamos essa vivência tão rica e cheia de vida para hoje, com nossos filhos, entendermos seus conflitos, carências e exigências?

Onde foi que deixamos o nosso adolescente interior para entender de onde vem esta preguiça e indisposição que neles se instalam, a resistência por nossos argumentos, a desobediência e a rebeldia características da IDADE! Idade esta que também passamos!

Isto é adolescer. Lembrar do que fomos, como sentimos e lidamos com a adolescência um dia, na própria pele. É o caminho de volta para nós mesmos. Maduros, com todas estas sensações reeducadas para ajudar nossos filhos. É um caminho mais inteiro com eles.

Na minha modesta opinião de mãe de primeira viagem, o que torna a adolescência tão difícil para pais e mães é o espelho que muitas vezes encontramos no adolescente que hoje está diante de nós. Reconhecemos nele atitudes que foram ou são nossas também, coisas que gostaríamos de ter mudado e que vemos simplesmente ser transferidas. E se nos provocam um certo desconforto é porque ainda podem ser questões que precisamos resolver, corrigir em nós, para depois orientar nossos filhos.

Irrita-nos a postura insolente, provocadora, desafiadora que um dia também tivemos em maior ou menor grau e está ali, diante dos nossos olhos, debaixo do nosso nariz,  não nos deixando esquecer o que fomos ou ainda insistimos em ser.

Parecia fácil. Achei que fosse, mas olhar para a adolescente que um dia eu fui para orientar meu filho às vezes dói. Por outro lado, educo, curo,  aprendo, amadureço e ajudo meu filho a crescer. Pense sobre isto…


Um abraço, obrigada por ainda estar aqui!

 

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