Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais…
(Almir Satter e Renato Teixeira)
Conversando com meu filho…
“Oi filho,
você acabou de dormir e tento fazê-lo entrar num ritmo entre mamadas e dormidas.
Na próxima segunda-feira começaremos uma semana de adaptação no berçário aqui perto de casa.
A mamãe logo volta a trabalhar e para isto devo te deixar aos cuidados de outras pessoas as quais preciso aprender a confiar.
Não é fácil abrir mão da sua companhia.
Sabe, filho, quando você tiver filhos, se tiver um dia, entenderá o que digo.
Por mais noites sem dormir ou trabalho que possa me dar, exigindo vinte e quatro horas de mim neste momento , o amor que tenho por você só faz crescer a cada dia que passa.
Aqui, cabe um desabafo, que não tem nada a ver com você, filho, mas com a situação que vivo.
Nada disso, como já escrevi, muda o meu amor por você.
Mas para mim, que sou mãe de primeira viagem, as noites mal dormidas cuidando de você deixam-me profundamente irritada com tudo o que existe à minha volta.
Tudo o que eu gostaria de ter agora é um pouco mais de ajuda. De alguém que pudesse te levar no quarto para eu amamentar sem que eu precisasse levantar o tempo todo. De alguém que pudesse cuidar de você para que eu pudesse dormir sossegada e sem sobressaltos. E nem estou falando de um período longo. Mas aquela soneca que é tão gostosa para você é revigorante para mim.
Não tenho cabeça nem disposição para sexo. A exaustão que sinto toma conta dos meus dias. Passo por momentos de quietude onde o diálogo introspectivo dá lugar ao meu “caramujo” onde o mundo sou apenas eu e você.
Gostaria de ter família por perto, do aconchego que as amizades me dão e estão distantes.
De ter alguém para conversar, uma tia para ir visitar e tomar um café com bolo de fubá, de milho, de cenoura… Ou simplesmente alimentar-me do carinho da prosa, juro que eu não preciso de mais que isto.
Gostaria de, por alguns dias, ter esta pequena e amorosa “equipe” ao meu lado. Para ajudar-me a relaxar, a me ensinar, para falar para eu ter paciência para que eu não me sinta sozinha.
Para ajudar-me a suportar minhas carências e minhas ausências, para tomar a frente das coisas num momento em que meu cansaço é maior que minha vontade.
Para dizer-me o quê e como fazer na hora de te dar um banho, de trocar uma fralda, de cuidar de um soluço.
Qualquer coisa que pudesse trazer-me um pouco mais de alívio, de tranquilidade. Porque filho, nunca senti-me tão perdida e sozinha em toda minha vida.
Questiono-me se o que sinto é um egoísmo enorme, mas perdoa filho, sou mãe de primeira viagem e ainda não aprendi a lidar com tudo isto.
Deus nos abençoe, filho, preciso ter coragem porque sei que o nosso amor vencerá.”
Lições que aprendi…
Tive muitas recaídas no meio do caminho.
Mesmo sob cuidados médicos e com medicação adequada, não escapava de pequenos “surtos” .
Ao longo dos anos entendi o meu funcionamento e aprendi a criar meios para aliviar os sintomas que esta solidão me causava.
No início, enchia minha casa de amigos com almoços, jantares, lanches da tarde como uma forma de preencher estes “buracos” provocados pela ausência familiar.
O tempo dedicado aos outros era maior do que o tempo que eu dispunha para meu marido e filho.
Ouvi várias queixas do Alexandre a respeito, mas eu estava cega e surda e não aceitava que ele estivesse certo.
Fiz isto durante anos até passarmos por um período de dificuldade financeira e as amizades rarearam.
Quando estamos negativos seja emocional ou financeiramente, não nos tornamos atraentes, as pessoas cansam-se da gente. Desistem.
E precisei de mais um tempo para cair a ficha, um outro para enxugar as lágrimas e elaborar as mágoas e outro para recomeçar.
Voltei-me para minha família, busquei ajuda para o autoconhecimento e nutri por nós mais paciência, diálogo e amor.
Ainda tenho crises de “abstinência familiar”, sinto falta do barulho da minha consanguinidade por perto, sinto falta das amizades de longos anos que cultivo, que não perco e sempre que posso aperto mais os laços nas viagens que faço ou nos encontros das festas de família que vou.
Tenho recaídas, mas tenho muito carinho e amor das pessoas que sou amiga.
Um exemplo disto foi o que senti no casamento do filho da Ana e do Antenor que aconteceu em Presidente Prudente no interior de São Paulo.
Senti-me uma convidada de honra querida e amada pelos donos da festa e com uma alegria imensa de poder fazer parte de uma celebração tão linda como foi.
Senti-me importante pelo carinho e pela acolhida com que me trataram e deram-me a permissão para que eu pudesse ser uma criança na festa onde ri muito, brinquei, admirei e encantei-me com toda a beleza que encontrei naquele salão.
Senti-me como criança arteira ao esconder em saquinhos as rosas que enfeitavam os guardanapos e as forminhas em flores que adornaram os doces como um pequeno e valioso tesouro que ninguém poderia tirá-lo de mim. Ai que mico!! E daí? Eu estava feliz!
E as comidas deliciosas?? Cada prato que eu experimentava fazia-me sentir o próprio Remy – o ratinho do filme Ratatouille – com uma explosão de sabores no meu paladar que só os pratos feitos com o coração permitem sentir.
Eu estava feliz por estar ali! Com minha irmã, com minha amiga Lena, cercada por tantos mimos!
Ganhei um presente enorme, ganhei a certeza de que o que sou e o que faço ajudam-me a construir amizades que não se perdem, que não se afastam com o tempo nem com a distância.
Debulho-me em lágrimas, nem ligo, podem me chamar de chorona, nem ligo, sou chata também? Nem ligo.
Mas trato bem meus amigos, amo recebê-los em minha casa e por eles carrego meu regador cheio de carinho.
Para o Alexandre tento ser uma boa esposa, para o Antonio, uma boa mãe. Não consigo todas as vezes, mas continuo a buscar o sentimento que equilibra, que constroi, que não aleja, que dá autonomia para sermos uma família amorosa e… Imperfeita!
Deus abençoe os bons amigos que nos cercam e suas famílias. Assim seja!
Um abraço carinhoso para você que me lê, que o seu dia seja cheio de luz.
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