As árvores são fáceis de achar
Ficam plantadas no chão
(…)
Há as que dão frutas
E as que dão frutos
(…)
Crescem como as pessoas
Mas não são soltas nos passos
São maiores, mas
Ocupam menos espaço
Árvore da vida
Árvore querida
(…)
(As árvores – Arnaldo Antunes e Jorge Ben Jor)
Conversando com meu filho…
“ O que é uma árvore? De onde vem? Como se forma? Qual seu maior objetivo?
Isto, filho, você aprenderá nos livros.
Mas tem outra árvore que você precisa conhecer:
É a árvore da sua família!
Vou contar a você sobre a família Anizelli, que é a que tenho mais informações, porque um dia eu tentei fazer minha cidadania italiana e acabei conhecendo um pouco sobre ela.
Nossos antepassados chegaram ao Brasil em 1896 pelo Porto de Santos.
Valentino Janicelli, meu tataravô, Catharina Moscana, minha tataravó e José, um de seus filhos.
José tinha apenas 4 anos de idade e foi uma das poucas crianças a sobreviver no percurso desta viagem de Trento ao Brasil.
Trento pertencia a Áustria e somente após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, passou a fazer parte do Reino de Itália, olha só!
Mas contando história…
O avô Valentino era sapateiro e foi morar na cidade de Dourado, interior de São Paulo.
Não confundir com Dourados no Mato Grosso do Sul.
Sua sapataria fazia sapatões com prego de pau de torno e também um tipo de bota feminina chamada “buziguim”.
Valentino passou o ofício ao filho José que cresceu em Dourado.
Seu nome completo era José Valentino Janicelli, ele casou-se com Verginia Facchini no ano de 1905.
Ele com 21 anos e ela com 19.
Consta na certidão de casamento que eles eram austríacos e não italianos.
Curiosamente eles se casaram com a mesma idade que o avô Gena e a avó Aninha.
Bom, meus bisavós tiveram 11 filhos:
Affonso, Maria, Josefina, Ana, Antonio, Rosa, Guerino, Dionísio, João, Ilídio e Luiz…Estão todos aí?
Nossa, é filho hein?
José e Vergínia juntaram toda esta filharada e mudaram-se para uma cidadezinha do interior de São Paulo chamada Santa Clara.
Os mais velhos da família contaram-me que o vô José era bravo demais! Na verdade disseram que ele era bem ruinzinho,viu! Tinha um gênio terrível!
Mas, vamos lá.
Affonso, o filho mais velho era casado com Janira Gregório.
Em Santa Clara, ele possuía uma máquina de arroz, um moinho de fubá e uma pequena fábrica de charretes e carroção.
Aos poucos, foi trazendo da roça seus irmãos e instalando-os na cidade para trabalhar com ele.
Affonso e Janira tiveram nove filhos:
Alzira, Jacilda, Osvaldo, Genior (vô Gena), Maria Aparecida (natimorta), Cidnéa, Ana, Maria José e Conceição.
Minha avó Janira faleceu aos 36 anos no parto da tia Conceição. Novinha, não é? Uma menina.
Um ano depois, o vô Affonso casou-se com a vó Albertina Destro, que era uma costureira, viúva e não tinha filhos. Mas com ele teve 3: Sueli, Vergínia e Paulo Roberto. Faça as contas: mais 11!
Filho, a geração que conheço e convivi foi a que veio a partir daí.
Meu avô Affonso, portanto seu bisavô, mudou-se para o Paraná com seus irmãos por volta de 1950 e montou uma oficina de carrocerias em Ibiací.
16 anos passaram para que todos se mudassem para Primeiro de Maio e em volta da nova oficina construiram suas casas formando assim a Vila Anizelli.
Legal, você não acha?
Só faltou construir o “portal da Vila.”
Olha filho, ainda tem o lado Scaramal, que são mais 11 irmãos e todo o lado da família do seu pai que, honestamente, acho que vou esperar você nascer para pesquisarmos juntos!
Juntar toda esta história de família dá uma trabalheira danada e sozinha não vou dar conta!
Agora bateu uma fominha…Vou procurar algo para comer e eu volto outro dia com mais histórias para contar. Beijos da sua mãe que te adora. Fique em paz.”
Lições que aprendi…
Uma das coisas que eu mais gostava, era subir até a Vila Anizelli, lá em Primeiro de Maio, para almoçar na casa do vô Affonso.
Fosse no domingo ou em dias de semana a comida preparada pela Tia Teço, Tia Gina e Tia Su, eram coisas do outro mundo!
E os doces caseiros, os pães feitos no forno à lenha pela vó Albertina?
Hummm…Que delícia lembrar daquele cheirinho de pão saído do forno assado na folha da bananeira.
Vó Albertina, não foi minha avó biológica mas a avó do coração que tenho na lembrança.
Casou-se com meu avô Affonso quando ele enviuvou e ajudou a cuidar dos oito filhos deixados pela vó Janira.
Lembro-me da mesa de madeira, na varanda dos fundos da casa, limpa e arrumada quando por volta das 3 e meia da tarde soava o apito da oficina pedindo uma pausa para tomar o café da tarde.
O pão caseiro preparado e servido por esta avó maravilhosa, uma pausa para a família reunir-se em volta do pão, sagrado pão
Eu brincava de betes no meio da rua de terra vermelha, sem asfalto, com meus primos Dema, com a Cleide, a Clara, e com o Tio Paulo.
Asfalto era coisa de cidade grande.
Sentávamos naquelas toras de madeira imensas, todas empoeiradas espalhadas e empilhadas em volta do campinho improvisado para ver o jogo de futebol entre primos ou ficávamos ali apenas para conversar conversas de criança.
Lembrar da macarronada da Tia Celina, da Tia Chida torrando café, da casa liiiiiimpa da tia Nai, da braveza da Tia Cida, que medo!
Podíamos entrar por algumas das casas dos tios que moravam na Vila pelos próprios quintais separados por cercas de balaústras e pequenos portões.
E sentar naquela máquina de cortar toras? Nossa!! Eu era uma criança de oito anos.
O Tio Guerino cuidava de mim e me avisava a hora de saltar do “trenzinho”.
Imagine, eu no final desta máquina, sentada em cima de uma tora de madeira e lá na frente, do outro lado a diversão era ver uma serra imensa cortando esta tora em tábuas!
Santo Tio Guerino!
Lembrar do barulho da oficina, do cheiro do pó de serra. Dos montes de toquinhos de madeira que a gente juntava para brincar de carrinho.
Quando eu era criança, esperava o almoço de Ano Novo para comemorar com toda a família no barracão da oficina do meu avô.
As mesas e bancos imensos eram improvisados com as tábuas e cavaletes da madeira das toras que meus tios usavam para fazer as carrocerias de caminhão.
Entre primos e tios, devíamos somar quase 50 pessoas em volta daquela mesa que para mim parecia nao ter fim de tão grande!
Mas o mais esperado por mim, era o que meu avô Affonso dava às crianças no dia de Ano Novo:
uma nota de um cruzeiro para cada neto!
Com aquele gesto ele sempre nos dizia:
“-Bom princípio de Ano Novo!”
E nós saíamos felizes com aquela nota de um cruzeiro na mão.
Depois a nota passou a ser um sonho de valsa.
Vô Affonso mais parecia um Papai Noel com seus cabelos branquinhos, suas bochechas vermelhas e seus olhos azuis, quanta saudade desta doce lembrança que jamais esquecerei.
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Você poderá ler os assuntos alternadamente ou acompanhar desde o início capítulo por capítulo.
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