“O lar é o celeiro de bênçãos, no qual se coletam as informações e a vivência edificante, tornando-se o primeiro núcleo de socialização da criança, que aí haure as experiências dos ancestrais, adquirindo os hábitos que deverão nortear a sua caminhada existencial.” (Joanna de Ângelis)
Conversando com meu filho…
“Curitiba, 30 de setembro de 2001
Oi filho, hoje é aniversário da sua tia Ana, ela está preparando uma bacalhoada na casa dela para comemorar.
Hummm, delícia, não?
Pena estarmos longe, do contrário almoçaríamos todos juntos neste domingo.
Daqui a pouco ligarei para ela para desejar um feliz dia!
Agora é o meu momento com você e ontem você me deu um baita susto!
Eu estava assistindo TV com seu pai e quando coloquei minha mão na barriga ela estava dura, esquisita demais e eu fiquei assustada.
Então seu pai disse para eu me acalmar, deitar e colocou a mão na minha barriga.
Parecia que você se esticava todo e mexia-se de um lado para outro, desta forma a barriga esticava também, sustos de mãe de primeira viagem…
Na sexta, dia 28, foi dia de consulta com a Dra. Marina. Ela é um amor.
Conversa com você enquanto coloca um aparelhinho na minha barriga para ouvir seu coração.
Ela tira minhas medidas e diz que você é um bebê comprido além de estar virado de ponta-cabeça.
Não é que você não pára mesmo?
No sábado fomos visitar uma professora que é muito querida para mim.
Estivemos lá na FAE onde ela dá aulas de pós graduação nos finais de semana, seu nome é Maria Aparecida Rhein Schirato.
Para mim uma pessoa notável e que fez toda a diferença em minha vida.
Eu a conheci em Londrina, num curso que fiz sobre Logística Comportamental.
Tive aulas com mestres incríveis neste curso, mas esta professora em especial “sacudiu” a mim e toda a classe também.
Sempre que a agenda dela me permite eu a visito.
Foi seu aniversário na sexta-feira e no sábado levei para ela algumas trufas preparadas pela sua tia Ana como presente.
Ela adorou nos ver, mas o tempo foi curtinho e ela voltou para a sala de aula…
…E nós para casa.”
Um parênteses sobre Maria Aparecida Rhein Schirato:
Esta querida professora tornou-se minha amiga.
Logo depois que encerrou seu bloco de aulas conosco em Londrina ela foi entrevistada para as páginas amarelas da Veja.
Não acreditei quando abri a revista e a vi ali.
Encaminhei uma carta à redação da Veja dizendo que não bastava ler Maria Aparecida, era preciso ouvi-la também.
Ela, com certeza, mexeu com questões emocionais profundas de todos os que puderam ter a oportunidade de assistir suas aulas naquele período.
Por ela nutro minha incondicional admiração, hoje e por toda a vida.
()http://veja.abril.com.br/140499/p_011.html
Lições que aprendi …
Família, de novo volto-me à ela.
Não falo aqui apenas da minha, meu marido, filhos, não.
Falo de laços maiores que vamos cultivando desde a mais tenra idade.
Quando criança, lembro-me da minha bisavó Virgínia. Ela morava na casa do vô Affonso.
Era bem velhinha, doente e vivia na cama.
Acho que ela nem tinha forças para fazer qualquer coisa.
Minha avó Albertina, junto com a Tia Gina, Tia Su e Tia Teço revesavam-se em cuidados com ela.
Mas mesmo neste quadro delicado que se encontrava, lembro das minhas tias me avisarem para não fazer barulho porque a vó era muito brava!
Sinto-me feliz por ter convivido com minha bisavó Guilhermina.
Pequenininha, foi torcedora do corínthians…pode?
Tinha cabelos compridos e os prendia num coque com aqueles pentes que só as mais velhinhas usavam.
Lembro-me da sua carinha sorridente e banguelinha. Claro, dentes para quê?
Morou por um tempo na casa da minha avó Maria, mãe da minha mãe.
E ela morreu quando o Corinthians venceu aquele campeonato que fazia uns 23 anos que não ganhava.
Contaram-me que ela estava pegando água do filtro para beber quando soube da vitória. Contam os parentes que suas últimas palavras foram: “- O corínthians ganhou?” E ali mesmo, neste estado de graça ela se foi…
E a Tia Davirce? Outra mulher maravilhosa.
…Lembro-me do seu “jeitão”…
Fui morar com a família dela quando estava com 15 anos.
Tio Lelé…Era este o apelido do meu tio, meus primos Israel e Ednilson, ou Edi, como o chamamos até hoje.
Foram 3 anos bons e muito alegres.
A casa vivia cheia de gente e a tia sempre “adotava” alguém que, por uma necessidade ou outra, precisasse ficar um período por lá.
Não se negava a acolher ou dar um prato de comida a quem quer que fosse.
Primos, amigos dos primos, parentes, muitos deles passavam pela sua casa para dar um “oi”, tomar um cafezinho ou para “filar uma bóia”.
Fosse no almoço ou na janta era difícil o dia que não aparecia ninguém.
Isto era tão comum para mim que eu nem percebia que este entra e sai de tios, colegas, gente que eu nem conhecia, era atípico, ou seja, não era o que acontecia nas outras casas.
Mas ali era uma verdadeira “Casa de Passagem”.
É engraçado olhar por este lado e lembrar que a casa dos meus pais também foi assim e que repito muitas vezes a mesma situação na minha própria casa.
Às vezes meu marido não entende esta dinâmica, mas percebo que o que ocorre vem de uma situação anterior a mim.
Será que a casa do meu filho será assim um dia?
Muito cedo para pensar, mas era como funcionava a casa da tia Davirce.
Nos três anos que morei com ela, cansei de vê-la levantando cedo, coando café, preparando um lanche ou almoço para todos nós.
Sempre me deu bons conselhos, não me lembro nunca de tê-la visto nervosa.
Numa das últimas conversas que tivemos, ela me dizia que queria aprender sobre controle de qualidade para melhorar o padrão das camisas que fabricavam.
Sonhos, projetos de quem ainda tinha esperança para viver e realizar. Ela se foi antes disso, no dia 23 de setembro de 2001.
Todas as vezes que retomo o Diário percebo as muitas mulheres que tiveram , tem e terão influência sobre mim.
Seria preciso várias vidas para contar as histórias divididas com elas e agradecer imensamente a cada uma pelas lições que me ensinaram e pelo papel importante que tiveram nesta minha caminhada.
Lembrar da Tia Dirce, que hoje é a mãe de todos.
Sua casa é a “Casa de Passagem” obrigatória para seus irmãos, cunhados e sobrinhos e agregados.
Com seus “braços de polvo” nos acolhe, nos recebe, sempre com um sorriso e pousa seus olhinhos azuis dentro de nossas almas acendendo pontinhos de luz, de esperança, de amor.
Tia Dar, Darcy, “Maguinha”…”Chá Dai”…minha madrinha e de tantos outros primos.
Foi com ela que conheci Curitiba, Passeio Público, pedalinho…ahhh… E aquele arroz amarelo? Que eu nunca tinha comido, só aqui!
Foi com ela que conheci a praia…Eu tinha sete anos! Brincar na areia, beber água salgada…E descobrir que era este o gosto da água do mar.
Fiz minha primeira viagem de trem com ela. Que medo! Voltamos de Paranaguá para Curitiba numa noite de tempestade…Imagine!
Aqueles relâmpagos que faziam brilhar o meio da serra escura.
Ou quando conseguia ver um pontinho de luz lá no fim do precipício sinalizando que alguém morava ali…
Mais novinha ainda, eu adorava quando me pegava no colo e me embalava para dormir…
Até hoje lembro-me disto.
Tia Maria José, outra mãe, outra estrela nesta minha constelação, uma artista autodidata.
Fuça, pesquisa, aprende, pinta, costura, borda, decora… Faz coisas lindas com suas mãos.
Com ela aprendi a fazer café e é dela a receita que passo para minhas amigas…
Foi ela que me deu a dica de colocar iogurte na massa do meu pão… E que todo mundo adora!
Com ela vivi algumas histórias divertidas de Ano Novo na sua chácara e aprendi a conhecer e amar o “Anizelinho”, seu marido, Tio Zé Luiz do coração.
Irmã de sangue e as amigas que considero como irmãs, sobrinha-afilhada, sobrinhas agregadas, primas, sogra, cunhadas que não posso esquecer, outras tias com histórias ainda para contar.
Para algumas delas agradecer seria pouco e nominar todas me faltaria memória e espaço.
Amadas, queridas, cada uma no seu tempo ainda deixam em mim seu registro, um segredo, uma marca, uma lição.
E claro, minha mãe, minha linda.
Para você eu me curvo, te reconheço e te agradeço pelo seu amor, pela minha vida.
Do contrário, mãe, nenhuma destas histórias teria existido, não é?
A você que me lê: Tenha um bom dia. Fique com Deus… e até quinta!