“Disciplina é liberdade,
compaixão é fortaleza,
Ter bondade é ter coragem”
(Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá)
Conversando com meu filho…
“22 de abril de 2002, é madrugada e estou sem sono.
Seu pai está na sala vendo TV.
Você dorme tranquilo no seu berço.
Cada dia que passa você está mais forte e lindo. Está com 3 meses e meio e é um garotão.
Seu tamanho e peso correspondem a um bebê de 8 meses ou mais.
Seu olhos ainda estão azuis e pelo que vejo seus cabelos serão claros também.
Dizem que se parece com seu pai. Ele fica todo orgulhoso, mas não fico enciumada por isso.
Você agora começa a “falar” outros sons sorri o tempo todo e sempre acorda de bom humor.
Você prefere dormir de bruços e, de manhã, quando é hora de acordar, dou beijinhos nas suas costas, um cheirinho no seu pescoço para te dizer bom dia.
Espero um pouco para certificar-me se acordou, em seguida te pego, te dou um abraço e começo a fazer a sua higiene para te trocar.
Se percebo que acordou com fome, prefiro amamentá-lo primeiro e depois cuidamos das fraldas, que normalmente tem só um xixizão, dá para esperar.
Sua tia Ana comprou algumas roupas de presente e nos mandou lá de Londrina.
Também compraremos uma cadeirinha para colocar no carro…Daqui a pouco você passeará sentadinho no banco de trás.
Você já está virando um mocinho. Adora ver tudo, olhar para todos os lados, descobrir, conhecer e se familiarizar com as novidades das descobertas.
Gosta de objetos coloridos e luminosos, fixa seu olhar na luminária do teto e gosta de observar a luz. Estranha um pouco o barulho do trem, chega a esboçar um beicinho de choro, mas logo passa.
Daqui a pouco entraremos na sua terceira semana de berçário e você parece estar bem.
Até agora tudo corre de forma tranquila para nós dois. As “tias” cuidam de você com carinho e você já conquistou alguns corações lá dentro desde cedo!
Você me surpreende com seu sorriso e bom humor mesmo em situações não muito confortáveis como quando está com cólicas ou quando toma um chá de ameixa e faz cara de que não é nada bom.
Mas logo seu rostinho é iluminado com um sorriso. Parece que leva na boa essas dores e seu mal estar como a me dizer:
“- Está tudo bem, mamãe, eu estou legal.”
Nesta fase, o mais engraçado com você é o barulho que faz para dormir.
Quando o sono vem, começa a dar uns resmungos que, tanto eu quanto o seu pai já sabemos o que é.
Ao dormir você se acalma quando ouve música.
Tanto que, sabendo disso, seu pai e eu sempre procuramos um som “manero” para fazê-lo adormecer.
Hoje, por exemplo, seu sono foi embalado por uma ópera de Puccini, lindíssima, mas seu pai, na maioria das vezes o embala com Chet Baker.
Eu prefiro o som dos golfinhos.
Bom meu lindo, descanse agora, durma em paz, preciso dormir um pouco também.
Beijos, te amo muito.”
Lições que aprendi
Antonio até hoje é bem humorado.
Vive contando piadas, faz graça com tudo e ao acordar levanta e nos dá um beijo e um abraço de bom dia.
Quando é o último a se levantar, somos eu e o Alexandre que vamos acordá-lo brincando de “martelão”.
Pulamos em cima dele, fazemos cócegas, apertamos, beijamos até que acorde dando risada e entra na brincadeira.
É carinhoso e amoroso, responsável com suas lições de escola. Um pouco bagunceiro ainda mas quando começo a “botar ordem” nas suas coisas é o primeiro a dizer: “ – Mãe, deixa que eu arrumo.”
Outro dia quando voltava do colégio aborrecido com algum colega, perguntei o que havia acontecido e o quê o fazia sentir-se daquele jeito.
Contou-me que ficou chateado porque os colegas “zuaram” com ele quando numa situação ficou nervoso não deu conta e chorou. Os colegas o provocaram e ele só piorou.
Depois de contar-me o que houve ele me diz:
“- Mãe, o que mais me chateia é que eles não me respeitam. Sabe, eu poderia “zuar” com eles também, mas eu não sou assim, eu os respeito e gostaria que me respeitassem também, cada um tem um jeito de ser, não é? E é por isso que eu fico nervoso, eles não entendem isso.”
Antonio tem apenas 10 anos e sua maturidade lhe é peculiar quando se trata de relações interpessoais.
Pensamos e, como eu sabia de quem se tratava, disse a ele o seguinte:
“_ Filho, quem te chama assim deve ter algum ponto fraco também.
Se o garoto que te incomoda é gordinho, diga a ele que você não fica “zuando” com ele por conta da gordura que ele tem, do cabelo comprido que ele usa. Você não o chama de baleia, ou balofo, ou qualquer outra coisa ofensiva na frente dos outros colegas, ou mesmo em particular, e que, até poderia, não é mesmo?
E se acontecer de novo com um outro colega, se for gordo ou magro, se for nervosinho, se usar óculos, ou ainda se tem mau hálito, se solta puns (risos) ou gostar de usar cabelos compridos e tiver qualquer outro tique, diga a mesma coisa e pergunte como ele se sentiria se você fizesse o mesmo com os “defeitos” que ele tem? Será que ele gostaria?”
E continuei…
“ – Muitas vezes, filho, o problema dele está na casa dele…A escola só está servindo de cenário para reproduzir o que ele sente e alguns pais nem percebem isso, infelizmente.”
E peço ao Antonio que não permita que ninguém o trate mal, nem que o faça sentir-se diminuido que não aceite estas ofensas nem tome isto para si.
Como na história do samurai que publiquei no post anterior:
“Se alguém chega até você com um presente e lhe oferece mas você não o aceita, com quem fica o presente?
Com quem tentou entregá-lo, respondeu o discípulo.
Pois bem, o mesmo vale para qualquer outro tipo de provocação e também para a inveja, a raiva, e os insultos, disse o mestre.
Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.”
Muito cedo para entender isto? Talvez, mas a semente foi deixada, um dia florescerá.
Fiquem com Deus.
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