O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
(Fernando Sabino)
Conversando com meu filho…
Domingo, 15 de maio de 2005, são 21 horas e 14 minutos.
Estamos no meu quarto.
Você calça meu par de tênis que fica enorme nos seus pequenos pés.
Está com três anos e quatro meses e curte assistir cartoon network.
Fica vidrado nas aventuras do Scooby-Doo.
Também gosta de caminhões, tratores, jeeps, colheitadeiras, pás escavadeiras e começa a reconhecer os números.
Em especial, o número oito, que identifica mais fácil.
Consegue dimensionar o tempo: manhã, tarde, noite, hoje, ontem, amanhã.
Ai, ai, ai, você acabou de vestir a fronha com travesseiro e tudo e diz que é um “sereio”.
Caí na gargalhada!
Você tem bastante senso de humor, mas ultimamente anda numa fase meio cruel de birras e suadas negociações.
Mede um metro e cinco centímetros de altura, pesa dezessete quilos e usa sapatos número vinte e sete.
Seus olhos ficaram verdes e seus cabelos ainda são claros.
Você ensaia escovar os dentes e tomar banho sozinho, mesmo que teime em não fazer, acaba se convencendo que o banho e os dentes limpos são o melhor a fazer.
Tem uma unha encravada no dedão do pé.
Faz xixi sozinho, e pede ajuda para fazer o número dois.
Consegue dormir sem fraldas já faz uns oito meses.
Seu desenvolvimento motor fino é harmônico.
Pega os talheres direitinho, come bem com o garfo ou a colher.
E o mais legal disto tudo: tanto faz usar a mão esquerda ou a direita, até agora não sabemos se será destro ou sinistro.
Tem bastante equilíbrio com o seu corpo.
Quando está em parques, sobe e desce dos brinquedos com segurança e firmeza.
Sabe onde pisar, como pisar e mantém-se equilibrado.
Percebo que você tem consciência dos limites e do espaço que o seu corpo ocupa pelos cuidados que toma ao movimentar-se.
Sua fala e vocabulário são ricos.
Conversa muito, é detalhista e observador.
Identifica qual é a mão direita, qual é a esquerda e aprende tudo rapidamente.
Tira conclusões das explicações que damos, compreende o todo de uma situação quando conversamos sobre os “porquês”.
É amoroso e consegue perceber quando extrapola em alguma coisa.
Sabe pedir desculpas quando “pisa na bola” e aprende a não repetir o que fez errado.
Observo seu desenvolvimento de personalidade: hora com atitudes minhas, hora com as de seu pai e também repete comportamentos do seu irmão.
Algumas curiosidades na pronúncia que você tem:
> suprime o “R” entre vogal e consoante.
Então a praia, vira “paia”, o abraço, vira “abaço”, preto, vira “peto” e assim por diante.
> tenta aprender palavras novas e acrescenta ao seu vocabulário do jeito que entende:
– “ai colicionado” – ar condicionado;
– “lúmia” – múmia
– “dáculi” – drácula
– “cafucilo”- capuccino
– “carefa” – tarefa
– “togafia” – fotografia
– “cupitadoi” – computador
-“xigulé” – chevrolet
– “foquivai”- volkswagem
– “naniz” – nariz
-“maceleta” – maçaneta
Mas o mais lindo para esta mãe coruja é ouvi-lo dizer: “-Obigadu”
Tem convicções sobre algumas coisas, como hoje, por exemplo a me corrigir:
“- Mãe, não é te-le-vi-são, é TV…TV Gobo.”
É mole?
Já aprendeu sobre palavras mal-educadas e chama a nossa atenção quando, por descuido, as falamos.
Vê-lo crescer e aprender é maravilhoso.
Tê-lo ao nosso lado é uma bênção de Deus.
Filho, você é muito lindo, meu querido, presente do céu.
Eu amo você.”
Lições que aprendi…
Hoje quero apenas pensar que o Diário está chegando ao final.
Não porque eu não tenha histórias para contar, mas porque os registros não tem a mesma frequência do primeiro ano de vida do meu filho.
Conforme o tempo passava e o Antonio crescia mais espaçadas ficavam nossas histórias.
Menos tempo eu tinha para escrever.
Mas ainda não vou embora, quero dividir um texto que li para refletirmos um pouco sobre a nossa pequena célula familiar.
Boa leitura,
Deus os abençoe.
COOPERAÇÃO DOS FILHOS
Nos dias presentes, a mulher se encontra sobrecarregada, quase sempre, por dupla e até tripla jornada de trabalho.
Como profissional, fora do lar, obedece a uma jornada, que lhe exige várias horas de atividades.
Adentrando o lar, mesmo que disponha de auxiliar para as tarefas domésticas, a ela cabe o encaminhamento e a coordenação do que deve ser feito.
Na qualidade de esposa, compete-lhe atender ao marido, e, como mãe, sobra-lhe a supervisão das tarefas escolares das crianças, a verificação do uniforme, a leitura dos bilhetes da escola.
Enfim, uma lista infindável de afazeres.
Muitas se sentem escravas de múltiplas obrigações.
É somente servir e servir e servir.
Convenhamos que falta um tanto de cooperação.
Primeiramente, do próprio marido, pois que o lar é uma conjugação a dois.
Depois, dos filhos, que devem ser educados para cooperar, colaborar nas tarefas domésticas.
Essa educação deve ser iniciada desde cedo, e requer pequenos cuidados a fim de que alcance os frutos desejados.
Necessita-se de um tanto de psicologia, a fim de estimular a criança, desde tenra idade, a realizar determinadas tarefas que não a irão cansar, nem exaurir.
Como humanos trazemos uma mensagem milenar de que trabalho é castigo, penalidade.
Boa tática é iniciar por uma brincadeira.
Mãe e filho poderão tentar descobrir quem guarda os brinquedos mais rapidamente, nos seus lugares.
Ou quem consegue guardar mais.
Naturalmente, isso exigirá um pouco de tempo.
E poderemos dizer que não temos.
Pensemos no entanto que apenas se trata de uma questão de administração das horas.
Lembremos de quanto tempo perdemos ao telefone, jogando conversa fora.
Ou em bate-papos que nada de mais construtivo nos oferece.
Canalizemos esses tempinhos para os ensaios de cooperação com nossos pequenos.
E tenhamos paciência.
Quando os convidarmos para mexer a massa do bolo, fazer a gelatina, preparar a mesa das refeições, lembremos que a criança tem seu ritmo próprio.
Recordemos que nós temos experiência e para ela tudo é novidade.
Não a pressionemos, fazendo-a sentir-se um autômato a obedecer ordens e mais ordens, em tempo recorde.
Tornemos a missão sempre prazerosa, elogiando-a a cada conquista: a mesa posta, a louça lavada, o chão enxuto, a roupa suja no local adequado.
Sejamos compreensivos, não exigindo perfeição, de imediato.
Se a cama não ficou bem esticadinha, como desejamos, ou se a colcha ficou um pouco mais curta de um lado do que outro, não critiquemos e nem desistamos.
Tornemos a ensinar, frisando, na próxima oportunidade, o cuidado que a criança deve tomar para realizar melhor a tarefa.
Nunca digamos não à sua oferta de auxílio.
Se acreditarmos que a tarefa está além das suas possibilidades, utilizemos bom senso, sugerindo algo que possa realizar.
Não nos cansemos de ensinar e pedir auxílio.
Deleguemos pequenas obrigações, fazendo com que a criança se sinta responsável.
Poderemos nos cansar nas primeiras tentativas, mas a recompensa será grande.
Além de termos excelentes cooperadores no lar, estaremos formando nossos filhos para se tornarem homens e mulheres que dignificam o trabalho.
Serão, assim, profissionais disciplinados, afeiçoados ao serviço e ao esforço.
Cidadãos que honrarão a comunidade a que pertencerem, pela qualidade de sua cooperação.
E, onde quer que estejam, sempre estarão procurando trabalho, não apenas emprego.
(texto do Momento Espírita impresso do site: momento.com.br)
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