Há uma geração de filhos sem pais presentes nascendo ou ela sempre existiu?
SERGIO SINAY – Sempre houve pais que não assumem responsabilidades e sempre haverá.
Mas nunca houve como hoje um fenômeno social tão amplo e profundo a ponto de criar uma geração de filhos órfãos de pais vivos.
Pela primeira vez podemos dizer, infelizmente, que os filhos com pais presentes que cumprem suas funções são uma minoria.
Conversando com meu filho…
“03.03.2002
Oi Filho,
deixe-me contar a novidade: a família vai aumentar!
Sua tia Ana está grávida e vem mais um priminho ou priminha por aí!
Seus avós ganharão dois netos em um ano apenas, não é o máximo?
O nascimento está previsto para outubro, só falta nascer no mesmo dia que sua mãe.
Celebraremos os aniversários em dobro.
Cada dia que passa seu pai e eu ficamos mais apaixonados por você.
Mas fico triste só em pensar que logo precisarei te deixar no berçário.
É aqui perto de casa, mas o coração começa a ficar apertado… Ai, ai…
A mãe volta a trabalhar em breve e para que eu fique tranquila você ficará aos cuidados de outras pessoas.
Nem me fale… Mas é assim e vai ficar tudo bem.
Estes dois últimos dias você dormiu bem melhor e acredito que estamos conseguindo colocar um ritmo na nossa rotina e isto é bom para nós dois.
Agora são quase nove da noite.
Você tomou seu banho, mamou e dormiu embalado pelo seu pai e deverá acordar por volta das 5 da manhã.
Às vezes você dá uns arrotos enormes e quando não o faz costumo andar com você de um lado para o outro na sala até que solte seus “barulhos apocalípticos”, isto funciona na maioria das vezes.
Faço este “roteiro”quando sou eu quem te embala para dormir.
Canto um pouquinho para você relaxar, criei até uma música, sabia?
E depois te coloco no berço, porque, do contrário, ando tão cansada que vou acabar dormindo em pé…
Observo para ver se não vomita, regurgita ou tenha qualquer mal estar.
Você ainda não fala, não é? Então fico atenta a tudo igual sentinela.
Quando percebo que adormece, respiro mais aliviada e vou dormir em paz.
Tenha bons sonhos, meu filho.
Deus te abençoe.
Daqui a pouco nos embalamos de novo.
Mil beijos nas suas bochechas.”
Lições que aprendi…
Eram noites de vigília que pareciam intermináveis.
O que contribuía ainda mais para aumentar meu estresse e a irritabilidade.
As lágrimas brotavam pelas “raízes dos cabelos”, o choro, muitas vezes, era incontrolável.
Na minha solidão, contava os minutos para que a diarista chegasse logo para eu ter com quem conversar.
Achei que não suportaria, passar pelo que passei.
Tive medo de machucar o Antonio, de piorar ainda mais o meu quadro porque eu não aceitava que passava por um estado depressivo.
Relutei o que pude até entender que a medicação naquele momento seria inevitável e inadiável.
Meus peitos doíam, o Antonio sofria com as cólicas, eu queria dormir, descansar um pouco, mas não conseguia.
Ele ocupava todo o meu tempo.
Eu ficava tão exausta que esquecia de comer e nem vontade de tomar banho eu tinha.
Cuidar da casa, então, nem pensar.
Cuidar de mim?
…Não dava tempo, meu tempo agora era do Antonio.
Maridos, ajudem suas esposas neste período tão delicado.
Sejam amorosos e pacientes.
Na minha cabeça passava mil bobagens.
Eu sentia-me gorda, feia, relaxada.
Não havia espaço para a vaidade, não porque eu não quisesse, mas porque eu realmente nem forças tinha para sequer “ficar mais bonita”.
Sexo então, quando, onde, de que jeito?!
Eu passava dias sem me dar conta que nem me olhava mais no espelho e quando olhava eu não me reconhecia, via-me envelhecida pelo cansaço.
Como é que eu conseguiria ficar sexy para o meu marido sentindo-me assim??
Sinto muitíssimo! Mas, não!
Por um período, tudo era o bebê e para o bebê.
Antonio dependia de mim, do leite que eu produzia para alimentá-lo, da minha disposição para dispensar-lhe cuidados e eu buscava forças em todos os lugares para não piorar ainda mais o que eu sentia.
Eram brigas intermináveis comigo mesma.
Uma imposição cruel para sentir-me bem, uma cobrança e culpa que não tinham fim.
Era como se eu estivesse numa piscina funda sem saber nadar e ainda precisasse segurar o Antonio com as mãos para cima, custasse o que custasse.
Desculpe-me pelo drama todo, mas era assim mesmo que eu me sentia.
Sentia-me atormentada e culpada por sentir-me assim.
Como é que eu poderia estar daquele jeito?
O que pensariam de mim?
Que eu era fraca? Que eu era mole? Que eu não aguentava nada?
Minha avó materna teve doze filhos, a mãe do meu pai teve nove, minha sogra cinco e eu não aguentava com um??
Quantos fantasmas coloquei na minha cabeça.
A “super Celi” não poderia falhar, não é?
Mas como sempre escrevo, passou, passou.
Não sei se a maioria passa por isto, não sei se você que me lê entende o que digo, mas eu passei sim, por um período difícil nos primeiros meses de vida do meu filho.
Tinha medo do meu marido me trair, de estar tão feia e cansada a ponto dele não me desejar mais.
Tinha medo que ele não tivesse a tranquilidade e compreensão para esperar a situação se acalmar e seguir seu ritmo.
Tive medo que ele quisesse se separar, ir embora, não sei.
Mas ao mesmo tempo eu pensava: “Meu Deus, o filho é só meu??”
Porque se é para ser este desespero, por favor, maridos, não atormentem suas esposas com exigências e picuinhas.
Se não estiverem dando conta então corram para a casa da mamãe e esperem seus filhos crescerem para serem “tios” deles e não pais.
E pelo amor de Deus não estabeleçam uma competição ridícula com seus filhos recém nascidos disputando a atenção da mãe, da esposa. Socorro!!
Ao contrário, mostrem sua maturidade, tragam calma, segurança, confiança para dentro da sua casa.
Vocês agora deixaram de ser filhos para ser PAI e MÃE.
Em qual casa esta transformação foi diferente??
Em todas elas isto foi anunciado durante nove meses, ou não?
Ou sete, ou oito em alguns casos, mas programado ou não, foi anunciado e esperado sim, o tempo todo.
E muita calma, calma, calma.
Nem sempre é fácil conversar em momentos onde há tanta novidade envolvida.
A família se forma, um novo núcleo se forma e é preciso envolvê-lo com serenidade, com paciência e com muito amor.
Porque onde eu colocar o meu amor é lá que ele florescerá.
Se eu o colocar no respeito, amorosamente o terei.
Se eu o colocar na paciência, amorosamente ela virá.
E assim passará a fase de adaptação da nova família, deste novo ser que chega para usufruir do amor que existe neste lar.
Falo aqui de sentimentos.
As questões materiais pedem um outro capítulo para realizar minhas reflexões.
Antonio é um menino lindo que enche-me de orgulho.
Ele seria perfeito se eu também o fosse, mas Graças a Deus, não sou.
Que bom, assim teremos muitas coisas para ensinar e aprender um com o outro e ajudar a corrigir nossas imperfeições um do outro também.
Ainda ontem ele mesmo me disse isto enquanto conversávamos sobre a possível mudança de escola.
” – Mãe, tem muitas coisas que eu estudo e que eu ensino pra você, não é mesmo?”
” – Claro, meu filho, é sempre uma troca.”
E sempre deve ser um amoroso aprendizado para o resto de nossas vidas.
Que assim seja.
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