“Não tente adivinhar o que as pessoas pensam a seu respeito.
Faça a sua parte, se doe sem medo.
O que importa mesmo é o que você é.
Mesmo que outras pessoas não se importem.
Atitudes simples podem melhorar sua vida.
Não julgue para não ser julgado…
Um covarde é incapaz de demonstrar amor
- isso é privilégio dos corajosos.” (Mahatma Gandhi)
“24/09/01 – Segunda-feira
Ganhos e perdas…
Filho, agora são 21 horas.
Estou em sala de aula e acabei de fazer uma prova. Daqui a pouco farei outra.
Confesso a você que não fui muito feliz em minhas escolhas profissionais.
Eu sempre tive dúvidas sobre o que eu queria e isto, durante anos, foi o fantasma que carreguei pela minha vida.
Um professor disse-me certa vez, que eu sofria de “ecletismo dispersivo”. Não sei se foi um elogio ou se ele estava era de saco cheio de mim.
Disse-me ainda que eu era muito inteligente mas não tinha foco para concluir meu objetivo. E, pasme, que eu seria o par perfeito para ser esposa de um executivo por conta deste ecletismo todo! E explicou: “com a facilidade de aprendizado que você tem e a forma generalista de enxergá-lo, você o faria crescer, com certeza.”
(Penso que meu marido não concorda muito com isto… Mas, em todo caso, foi assim.)
“Filho, a confusão se dá porque eu tenho facilidade para aprender e fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
Não é comum para mim começar uma tarefa e terminá-la para depois iniciar uma outra.
Começo e vou fazendo outras coisas em paralelo, mas “cedo ou mais cedo” acabo finalizando-as sem deixá-las para trás… será que isto é defeito ou é flexibilidade?
No trabalho também é assim. É como faço. É confuso para alguns, mas para mim é minha forma de ordenar e fazer o meu dia acontecer. Eu “funciono” deste jeito.
Um exemplo disto é começar a ler três ou quatro livros ao mesmo tempo, e claro, vou demorar um pouco mais para ler todos, mas vou lendo…
Por outro lado, experimentei a sensação de que as pessoas não acreditavam mais em mim, não botavam fé!
E devo dizer que esta foi a pior parte.
Eu ficava confusa em pensar se deveria fazer o que a maioria fazia, seguir o modelo ou sair do padrão. Pensava se realmente deveria mudar, consertar o caminho que eu achava “torto”. Pensava se ainda haveria tempo para mudar, arrumar, começar tudo de novo…
Enfim…cá estou na minha “multifuncionalidade” e está tudo certo.
Aprendi a me aceitar assim e com certeza sinto-me feliz nesta “confusão”.
Filho, se te escrevo tudo isto é porque não gostaria que passasse pelas angústias que passei.
Se te vale um conselho, comece a se observar. Perceba quais são suas habilidades, quais são os assuntos de sua preferência, o que te chama atenção. Tente, devagar, abrir caminho para a escolha da sua profissão.
Entenda meu filho, a importância em se autoconhecer.
Quem sabe do seu coração e para onde ele quer ir é só e unicamente você.
Não o torne uma presa fácil, como muitas vezes eu fiz com o meu.
Cuide-se, proteja-se, aceite-se, perdoe-se.
Somos seres humanos limitados.
E se algo te aborrecer, tenha calma, não se zangue por isto. Continue buscando e tentando encontrar um caminho que te faça feliz.
Às vezes será preciso retomar o ponto de partida e começar de novo. Tenha paciência.
Confie em Deus, Ele sabe tudo de que precisamos na hora e no tempo certos. Nem antes, nem depois, mas no seu tempo e na sua hora.”
Lições que aprendi…
Meu filho com certeza viverá num mundo onde a frase de ordem será: “- Estou numa correria”.
Ele perguntará às pessoas se está tudo bem com elas e elas lhe responderão: “- Antonio, estou numa correria!”
Ele perguntará a mesma coisa para alguns dos seus amigos e eles lhe responderão: “- Antonio, estou numa correria… A gente pode se falar depois?”
E sempre me pergunto: correria para quê? Correria para onde?
O relógio não andará mais rápido.
Não teremos dois dias seguidos de apenas uma noite. Cada quilômetro é andado centímetro a centímetro. Quer você tenha pressa ou não.
O sol não nasce à noite nem a lua nasce de dia! Tudo na natureza obedece um ciclo perfeito!
E ainda não inventaram o teletransporte, não neste mundo, não que eu saiba.
O que sinto é que as pessoas estão perdendo a “profundidade” e ganhando mais medos. E juro, que gostaria muito de ajudar a melhorar isto.
A tecnologia nos traz muitos benefícios, muitos avanços para a ciência, para a medicina, para as engenharias da vida, … Mas as relações humanas estão cada vez mais frágeis, mais doentes e debilitadas.
A rapidez, a pressa, a “correria” nos traz também a superficialidade, deixa-nos solitários, esgotados, vazios, deixa-nos individualistas e egoístas.
Tudo tem seu tempo e sua hora, é verdade. Mas quem é que tem respeitado isto… e se dado tempo, de verdade?
Se, de vez em sempre não pararmos para olhar nossos filhos, acompanhá-los, saber com quem andam e onde estão indo, ficará fácil dizer que a culpa é da escola!
Não sei se o que faço para o meu filho é o melhor. Mas tento, neste mundo de valores oblíquos, estar perto, acompanhar, ficar junto. A ensiná-lo a desenvolver-se socialmente, emocionalmente, a conhecer outras pessoas, outros lugares, proporcionar vivências extra video games, extra computador, extra casa e portões…
O que aprendo com tudo isto? Que fazer amigos para uma vida inteira começa desde cedo.
Que criar laços de fita, de barbante, de papel, de borracha, seja de qual material for, dependerá da qualidade do carinho e atenção que você pai e mãe oferecerão ao seu filho. Dependerá de quais valores morais, espirituais, emocionais, nós, enquanto pais principalmente, ensinaremos a eles.
Todos os dias eu aprendo com meu filho. Todos os dias temos uma brincadeira diferente, uma bronca que ainda não foi dada. Uma novidade para contar, uma palavra nova para aprender.
E todo santo dia nos dizemos : “- Puxa, preciso te dizer uma coisa…: Já te disse hoje que te amo e que você é muito importante para mim?”
Ganho quando pergunto e mais ainda quando digo: “ – Te amo muito, meu filho. Você é muito importante para mim.”
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