“(…)
– Sabe papai, se pudéssemos juntar todos os bons momentos da vida, não durariam 20 minutos.
– É – ele concordou.
Olhei-o espantada. Ele ainda estava estudando o sol que se punha no horizonte. Então, olhando firmemente nos meus olhos, acrescentou tranquilamente:
– São como tesouros, não são?”
( do livro – Histórias para Aquecer o Coração dos Pais –Ed. Sextante )
Conversando com meu filho…
“13/12/01 – quinta-feira
Ai que susto!
Uma manchinha de sangue na minha calcinha!
Cheguei no escritório onde trabalho e liguei para Dra. Marina.
Noelise, a assistente dela, me atendeu.
Expliquei a ela o que estava acontecendo e ela pediu-me para ir até a maternidade para ser examinada.
Liguei para o seu pai e fomos em seguida.
No caminho para o hospital muitas coisas foram passando pela minha cabeça.
Primeiro, o nervosismo de marinheira de primeira viagem.
Nesta hora, parece que todas as emoções triplicam.
Medo, angústia, ansiedade, dúvidas e o porquê de não ter deixado tudo preparado antes para uma emergência!
No meio do trânsito, seu pai nervoso, eu preocupada com você, tudo parece ser maior do que realmente é.
Dei-me conta do quanto a Maternidade Curitiba era longe de nossa casa!
Tentei manter a calma para não deixar seu pai ainda mais preocupado.
Chovia e eram quase dez horas da manhã.
Chegamos e fomos encaminhados até à secretaria para cuidarmos da parte burocrática.
Enquanto isto, a Noelise já havia ligado para o hospital e informou o médico de plantão que estávamos a caminho.
Passaram-se alguns minutos e fui atendida por uma enfermeira que mediu minha pressão, temperatura, verificou meus batimentos cardíacos e até aí estava tudo bem.
Ela ligou para o médico de plantão, Dr. Carlos, que logo chegou.
Ele fez algumas perguntas e pediu-me para que eu deitasse em uma maca para ser examinada.
Graças a Deus foi apenas um susto! Ainda não era a hora.
Já pensou, seu apressado se você nasce antes do previsto??
Seria um dia antes do aniversário do seu irmão.
Imagine o tamanho da festa para os dois?
Mas, eu ainda quero viajar para Londrina no Natal…
Amo você, meu filho.
Espero conseguir caminhar ao seu lado crescer e aprender com você por tudo o que estiver programado para passarmos juntos.
Aguente firme aí! Falta pouco para você chegar!
Te espero feliz. Mil beijos. Mamãe.”
Lições que aprendi…
O ano era 2008, mas o dia…
Lembro-me que foi uma conversa que tive com minha amiga Ivanise a respeito do meu medo de morrer e deixar meu filho ainda pequeno…
Ivanise passava aqui em casa quase todas as manhãs depois de deixar seu esposo no trabalho.
Ele, médico psiquiatra, ela psicóloga.
Deus cuidou para que eu nunca ficasse emocionalmente desamparada e manteve sempre por perto uma “equipe de apoio de plantão”. Risos à parte!
Tenho amigas que serão eternas companheiras em minha vida e agradeço a Deus por elas existirem no meu caminho.
Naquela conversa, enquanto eu explicava minhas preocupações a respeito de morrer e deixar o Antonio ainda pequeno, Ivanise deu-me uma sacudida fazendo-me lembrar que tudo tem seu tempo de começar e terminar.
Ergui as sobrancelhas em dúvidas procurando entender o propósito da afirmativa que saía daquela baixinha e sua mente tão peculiar.
Disse-me o seguinte:
“ – Celi, se você partir hoje, significa que o tempo que vocês tinham para passar juntos eram estes exatos 6 anos. Nem mais nem menos. Seu papel de mãe com ele era para ser até este momento. O que você o ensinou, o que tanto você quanto ele tiveram que aprender estava dentro deste período. Daqui para frente é com ele e com as pessoas que ficarão para cuidar dele.”
Senti um aperto no coração, uma saliva seca descendo pela minha garganta, um nó no meu estômago…
Mas era a mais pura verdade.
Fiquei por alguns momentos olhando para ela e com aquilo ecoando na minha cabeça…
Mas era verdade.
“- É verdade.” Pensava eu.
Nosso prazo de validade aqui na Terra está escrito em alguma estrela perdida neste imenso universo.
Temos a certeza que iremos um dia fazer esta passagem, esta viagem, este sono profundo…Mas não sabemos quando, nem como, nem onde.
Olhei para minha amiga e balancei a cabeça acertivamente.
Nunca mais fui a mesma mãe dali para frente.
Passei a acreditar que meu filho seria bem cuidado, amparado, amado e que o tempo dele seria outro e com outros, caso alguma coisa me acontecesse.
Aprendi que o tempo não volta, que é preciso exercitar o melhor de mim mesma todos os dias. Mudar para aprender, aprender para crescer com meu filho, com meu marido, com minha família.
Aprendi que o tempo que passamos com as pessoas que amamos é precioso demais para ser desperdiçado com picuinhas, com discussões mesquinhas.
Então aprendi a exercitar o “eu te amo” todos os dias, a mostrar em palavras, em atitudes em demonstrações de afeto.
Não consigo todas as vezes que tento…Mas tento mais um dia, mais uma vez.
Aprendi o quanto sou pretensiosa quando desejo que as pessoas sintam minha falta seja ela por qual distância ou circunstância for.
E enquanto a vida passa e ainda estou no meu tempo, vou criando meu filho.
Ando ao seu lado, brinco com ele, converso, interesso-me pelos seus assuntos, gostamos de piadas ridículas, daquelas que perguntam: “ – Você sabe o que é uma pintinha amarela no meio das ondas, lá longe no mar?”
“ – Você sabe quantos elefantes cabem dentro de um fusca vermelho?”
Porque os filhos não podem esperar… Não é mesmo?
Deus te abençoe, tenha um lindo dia!
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