“Se te contentas com os frutos ainda verdes,
toma-os, leva-os, quantos quiseres.
Se o que desejas, no entanto, são os mais saborosos,
maduros, bonitos e suculentos,
deverás ter paciência.
Senta-te sem ansiedades.
Acalma-te, ama, perdoa, renuncia, medita e guarda silêncio.
Aguarda.
Os frutos vão amadurecer.”(Professor Hermógenes)
Conversando com meu filho…
Quero deixar registrado este texto no Diário para que Antonio nunca se esqueça deste nosso amigo e de como chegou em nossa casa.
Sei que muitos amigos já leram porque está postado no meu blog pessoal http://www.saldeacucar.blogspot.com.br/
“Filho, você tinha 4 aninhos quando nosso amigo chegou, mas eu escrevi este texto em 2010 para que nunca o esqueçamos. Beijos, te amo…”
SALVA…Salvador
Chegaram dois irmãos…e Alexandre me perguntou qual eu queria.
Respondi que esperasse porque o “escolhido” nos escolheria.
E um deles correu quintal adentro, marcou território, foi e voltou algumas vezes e o outro ficou quietinho parado perto do portão.
O escolhido, na verdade, foi quem nos escolheu!
Chegou em casa com três meses de idade, lindo e ainda com os olhos azuis.
Andava engraçado, suas patas e orelhas eram enormes para o seu corpo.
“-E o nome??? ” Perguntaram Alexandre e Antonio, enquanto saiam para levar nosso hóspede ao veterinário…
Pensei um pouco e gritei:
“-Salvador! Depois explico porque!”
E os dois responderam: “- Legal, gostamos!”
…E foram com ele para sua primeira consulta.
A história começa pelo menos há dez anos…
quando eu estava em Bela Vista do Paraíso, cidade onde moram os meus pais.
Eu fazia compras, num sábado à tarde, no supermercado da cidade.
Fazia um calor enorme, daqueles que a gente tem no Norte do Paraná…
O sol já entrava porta a dentro quando de repente, da rua, ouvi um barulho e um gemido.
Corri para ver o que havia acontecido e lá fora, prostrado no chão, um vira lata com a perna sangrando em fratura exposta …
Nem dá para dizer que mal consegui voltar para terminar as compras…
Recorri a uma amiga, Luana, que de vez em quando recolhia animais de rua e os adotava para saber se poderíamos fazer algo por aquele cachorro que me comovia só de olhar.
Pegamos um carro, forramos de papelão, colocamos o cachorro nele e partimos às pressas para o hospital veterinário da UEL.
Pelo caminho, fazíamos conjecturas sobre qual seria o próximo passo para ajudar o bichinho…
Chegamos e fomos atendidas pelo Dr. Paulo Costa, meu amigo de crença e que na época dirigia o hospital. Cuidou, fez curativos e por fim, depois de tudo feito, aparece nosso maior dilema: quem e como cuidaríamos dele?
Luana me dizia que não havia como deixá-lo na sua casa porque já estava com “super-lotação”, eu, por minha vez, morava com meus pais naquele momento e eles viviam num apartamento… Meu coração se apertou de um jeito que fui perguntar ao Paulo se o cachorro poderia ficar no hospital, se existia um canil para abrigá-lo…E a resposta foi não, não existia e que não poderiam ficar com o animal.
Luana e eu nos entreolhamos e…Mais uma vez perguntamos ao Paulo:
“- E se o devolvêssemos às ruas, como seria?”
A resposta foi simples e seca:
“-Ele morrerá!” .
E eu por minha vez perguntei:
“-E agora, Luana? Tanto esforço para que ele morresse?”
Pensamos, pensamos, pensamos…E o Paulo nos vendo naquela situação nos disse que havíamos feito o que estava ao nosso alcance…
As lágrimas já brotavam dos olhos da Luana e dos meus…nos abraçamos e decidimos sacrificar o vira lata…Pois a morte nas ruas seria um destino certo.
Tá, tá…não me venha dizer porque é que não pensamos nisto antes…
E na verdade não pensamos mesmo…putz!
Não tínhamos como acolhê-lo, nem levá-lo de volta para deixá-lo nas ruas…
Foi triste demais decidir por isto, foi doído, e olhem…Era um vira lata…E nós sofremos como se fosse um cão que nos acompanhasse por uma vida!
Por fim, decidido estava, decidido foi! Mas pior que isto, quando fui chamada para fazer o registro, a ficha do animal, é… Registro de autorização para a execução do bichinho…
Não bastasse a dor, ainda seria euzinha a responsável pela sua morte!
Ai…Quase morri também!
De novo a choradeira, fui devagar preenchendo a ficha daquele animal que eu acreditei estar salvando…
Um peso na consciência, uma dor no coração, senti-me a carrasca assinando aquele papel!
Entreguei a ficha para a moça que me devolveu perguntando:
” -E qual é o nome do cãozinho?”
Pensei…”Nome? Que nome vou dar para um bicho que mal conheço e que só tentei ajudar…E que agora por minha conta e risco estou despachando para o além?”
Pensei e escrevi na ficha prometendo a mim mesma que seria o nome do meu cachorro quando eu tivesse um…
E escrevi: SALVADOR…
Devolvi a ficha, desolada, e com a Luana voltamos em silêncio para casa.
Dez anos se passaram e quase esquecida a história me aparecem dois filhotes de weimaraner para que eu escolhesse um…
Salvador, Salva, como carinhosamente o chamávamos, viveu três anos conosco, morreu em junho de 2009 por causa de uma insuficiência renal, um cão dócil, lindo, estabanado, brincalhão e que, tenho certeza, ainda passeia entre nós no nosso quintal!
Obrigada por estar aqui. Boa semana, fique com Deus e até terça!