Quando recebi o diagnóstico de autismo de minha pequena Gabriela, estava grávida de sete meses da Débora. Lembro-me bem que há época duas perguntas passavam por minha cabeça: Será que a Débora também vai ser autista? Será que é muito diferente ser mãe de um filho não autista?
Até o nascimento da Débora eu conheci apenas uma forma da maternidade. Ser mãe, para mim, era ser mãe da Gabriela. Ou seja, todas as experiências de maternidade que tinha até então eram ligadas a uma criança enquadrada no transtorno do espectro autista.
A Débora nasceu, e não passou muito tempo até eu perceber que ela não demonstrava nada de autismo. Olhava nos olhos até demais, era mais que “oferecida”, adora uma bagunça com bastante gente. Não que isso queria dizer tudo, mas, resumindo, ela não tem nenhum indício “clássico” de enquadramento no transtorno de espectro autista.
E agora com as duas, a Gabi e a Dé, você pode me perguntar: É diferente ser mãe de uma criança autista? É um amor diferente? É uma entrega diferente? Bom… Sim e não. Seria muito displicente eu dizer que não existe nenhuma peculiaridade em ser mãe de uma criança autista. Existe, sim.
Tem suas dificuldades: a correria com as terapias, o atraso no desenvolvimento, viver com o coração na mão por ninguém saber dizer exatamente o que esperar sobre como seu filho será no futuro, aquele aperto no peito quando há uma crise de birra ou de raiva. Todavia, também é um vínculo transcendente. Cada vitória é “A” vitória de sua vida; cada passo é “O” passo. Quando Gabriela disse “quero suco” pela primeira vez eu caí aos prantos de felicidade, e cada parte de mim sorria, com a mais genuína alegria.
Mas por outro lado, esse “diferente” não é só diferente porque a Gabriela é autista, mas porque ela é única. Mães de crianças com autismo não são mães do autismo, são mães do Pedro, da Júlia, do Márcio, da Paula, da Beatriz, da Nanda, do Gui, da Belinha… Da Gabriela. Nós não somos pais de uma patologia, mas sim de cada criança, que, como todo ser humano, é único. Assim, ser mãe da Gabi é diferente de ser mãe da Dé principalmente porque elas são crianças diferentes.
E o amor? É exatamente o mesmo pelas duas. Nem maior, nem menor. E nem poderia ser, porque amor por um filho é um amor que não se mensura. Um amor que se apodera de tudo que você foi ou pretendia ser. Amor por um filho te rende, e todos seus sonhos se tornam menores perto do sonho de ver aquela criaturinha ser feliz.
Agora é importante lembrar que amar uma criança com autismo, como ela é, não significa deixar de apresentar a ela o tratamento necessário. Tratar seu filho pelas terapias indicadas pelo médico não é mudar seu filho, pois ele vai continuar sendo o mesmo; é sim dar chances de ele se desenvolver, crescer e um dia voar. Tratar não é falta de amor, é excesso.
Já houve vezes em que escutei, de pessoas que sabem que a Gabriela é autista, que é bonito o quanto amo a pequena. Parece tão estranho esse comentário porque de alguma forma parece uma forma de dizer que é mais difícil amar um autista. E não é. De modo algum.
Não se ama criança autista porque ela é autista. Ama-se simplesmente porque se ama.