ABA é a abreviação para Applied Behavior Analysis. É conhecida também como (traduzindo) Análise do Comportamento Aplicada. Uma curiosidade é que o cerne do tratamento ABA é o ramo de ecologia. Sim, eu disse ecologia! E é dessa ecologia que surge um dos princípios basilares do ABA: comportamento é qualquer ação que pode ser observada e contada, com uma frequência e duração, e que este comportamento pode ser explicado pela identificação dos antecedentes e de suas consequências.
Tá… Ainda está confuso, não está?! Vou tentar deixar mais claro. Muitos definem a aplicação de ABA para crianças autistas como “aprendizagem sem erro”. Basicamente, o ABA trabalha no reforço dos comportamentos positivos. Quanto aos comportamentos não positivos/atípicos, é preciso verificar o que os precede, tentando conduzir a criança sempre ao acerto. Ou seja, em geral, você não espera o comportamento negativo, para intervir sobre ele de forma a causar sua extinção, mas realiza intervenções para que a criança não entre nesse comportamento, agindo nos antecedentes que o induzem, conduzindo-a a um comportamento positivo e depois reforçando.
Ao ser reforçada, a criança vai sentir-se impelida a repetir o comportamento positivo e -“voilà!”- tudo resolvido. Tá bom, tá bom. Não é tão simples assim. É claro que fazer tudo isso é um processo extremamente complexo e, em certos momentos, bem desgastante. Eu sei, porque hoje essa é a linha aplicada com a Gabriela, conforme recomendação médica. O ABA se estende para além do momento da terapia, sendo necessária a participação ativa na família no processo, atuando em prol dessa aprendizagem sem erro. E confesso que é bem cansativo ficar reforçando cada comportamento positivo. Cada coisa funcional que ela faz, cada frase espontânea, eu reforço. Tem dias que eu sinto que sou o palhaço Patati, porque estou o tempo inteiro: “que lindo, você pediu o brinquedo, bem legal!”, “que incrível, você comeu toda a salada!”, “você é uma princesa, olhou bem nos meus olhos!”.
Isso sem falar no número de materiais reforçadores que existem na minha bolsa. Esses dias eu saí com meu marido, depois de um longo tempo, para um jantar a dois. No final, ele pediu que eu pegasse a chave de casa na bolsa, e eu não a encontrava. Tirei tudo da bolsa, até encontrar: no processo meu marido listou tudo que tinha guardado: 7 cartelas de adesivo, 1 pacote de confete, 1 mini livro de pintura, 1 bichinho de pelúcia da Dora Aventureira, 8 pulseiras de plástico, 1 conjunto de canetinhas, 1 conjunto de lápis de cor, 1 caneta bic, a carteirinha da OAB. A bolsa da minha mãe não é diferente disso (na verdade é a mais lotada de coisas para reforçar a Gabi). Essa é a bolsa de quem tem filho na terapia ABA, afinal, temos que estar sempre preparadas para reforçar os comportamentos positivos.
Mas mais difícil que reforçar o tempo inteiro é interferir antes de ela entrar em um comportamento atípico. Sou praticamente uma escoteira de plantão integral: “sempre alerta”. Se vejo uma crise de raiva chegando, lá estou interferindo no primeiro sinal. É como se eu sempre estivesse tirando o dedo da Gabriela do gatilho. Por outro lado, o ABA nos ensina uma outra forma de lidar com nossos filhos. Por exemplo, você já parou para pensar o quanto de “nãos” você diz sem explicar? Toda mãe diz “não pule no sofá!”, sem parar para pensar se realmente explicou que o sofá é para sentar. A ideia, nesse caso, seria sempre intervir antes de ela pular no sofá e reforçar toda vez que ela usar o objeto de maneira funcional, como ao sentar para assistir a um episódio da possuída Peppa Pig (aquela porquinha mal educada, chata e inconveniente).
No momento de terapia (nos momentos em que a criança está em sessão terapêutica), haverá aplicação de “tarefas de mesa” (não que as possibilidades de aplicação se resumam a esse tipo de intervenção). O terapeuta responsável pelo caso construirá programas que serão aplicados com a criança, focados nas habilidades que se pretende (olhar nos olhos, dizer o nome das coisas, contar coisas que já aconteceram em seu dia, apontar… enfim, toda infinidade de comportamentos que possa se imaginar). Os programas são aplicados e construídos evidentemente em uma ordem lógica de aprendizagem, pois existem comportamentos que são imprescindíveis de serem aprendidos antes de outros. Por exemplo, se a criança não sabe falar ainda, não adianta montar para ela um programa para ela aprender a contar como foi seu dia. Os programas são construídos de forma direcionada para cada criança.
Em uma sessão terapêutica, se aplicam vários programas. Esses programas têm um critério, ou seja, um objetivo no qual se quer chegar. Quando a criança atinge um objetivo em um programa, muda-se para outro, objetivando a aprendizagem de outro comportamento. Se a criança não está respondendo bem a determinado programa, o terapeuta avalia o programa aplicado e “muda de estratégia”. Tudo isso é possível de ser avaliado porque todos os dados de como ela responde aos programas são anotados pelos terapeutas. Terapeutas ABA costumam ser obsessivos por gráficos (hehehe), então, se colocar seu filho nesse protocolo terapêutico, terá vários gráficos sobre o desenvolvimento dele (o que é legal, na verdade).
Antes da minha filha fazer ABA, eu comecei a pesquisar sobre o assunto. Achei muita coisa interessante, até que me deparei com vídeos no youtube em que o terapeuta faz uma pergunta para a criança, ela acerta, aí ela ganha um biscoito, e assim por diante. Eu fiquei horrorizada! Para mim, mais parecia um adestramento. Já imaginava uma mãe jogando um osso para a criança ir buscar. E aí você me pergunta: ABA é assim como nos vídeos? Sim e não. Não é sempre que se vai utilizar comida como reforço, até porque, se assim o fosse, todo autista que faz ABA seria obeso. A comida é o que se chama de reforço primário e, em alguns momentos do tratamento, ela pode estar presente. Não vou dizer que é agradável ver esses momentos quando eles ocorrem, dá uma certa reviravolta dentro da gente. Mas esses vídeos não mostram a realidade do tratamento. O tratamento ABA não é engessado como se pensa. Ele é bem lúdico, para dizer a verdade! Esses vídeos não mostram os momentos de generalização, que é o mais legal!
Tá… Agora tenho que explicar o que é generalização. Bom, é difícil explicar isso, mas vou tentar por um exemplo. Você ensina a criança a pedir “quero suco” e ela ganha suco. Ali ela tem uma descoberta: “Caramba, se eu falo “quero” e depois “suco” e eu ganho um suco, se eu falar “quero” e depois “mamãe” a minha mãe vai vir até aqui”. Ou seja, a criança aprende que essa lógica não se restringe àquele momento ou àquele objeto. Então, ela aprende da parte para o todo!
A terapia ABA é intensiva (normalmente recomenda-se protocolo terapêutico de até 40h semanais de aplicação). Para sua aplicação, necessita-se de um profissional capacitado para montagem dos programas a serem aplicados, e de aplicadores fixos que realizem tal aplicação – isso sem contar que você deve seguir as recomendações sobre como intervir 100% do tempo. A terapia não é apenas no momento em que a criança está com o profissional, mas implica em toda uma adaptação da família para se voltar a tal método. Os aplicadores ABA não necessariamente precisam ser psicoterapeutas, desde que possuam formação apropriada para aplicação dos programas. Ainda, em geral, essa terapia é aplicada primordialmente no ambiente natural da criança (casa, colégio).
Em 1987, o Dr. IVAR LOVAAS, apresentou estudo clínico que demonstrava que 47% das crianças com diagnóstico de Autismo apresentaram recuperação completa após se submeterem à terapia ABA recomendada por ele. Sim!!! 47%!!! É muito, não é?!
Nessa seara, a renomada DRA. FEIN (que indica e aplica método multiprofissional ABA a seus pacientes) enfatizou a importância da Terapia Comportamental ABA. Ao falar sobre recuperação ou melhora do quadro autista, proferiu que nenhum de seus pacientes – em seus 40 anos trabalhando com crianças autistas – simplesmente parou de ter Autismo, mas que a melhora completa ou parcial adveio através de árduo tratamento (pelo método ABA) dos profissionais envolvidos.
O Ph.D. RICHARD FOXX – professor de Psicologia em “Pennsylvania State University”; um clínico e escritor expoente no que se trata do Transtorno do Espectro Autista é grande defensor do método, defendendo para isso o alto grau de cientificidade e comprovação de resultados da referida abordagem. Outra coisa que o pesquisador destaca é que o referido método conta com o apoio de instituições como o Departamento de Saúde do Estado de Nova York e Cirurgião Geral dos Estados Unidos, bem como tem financiamento para pesquisas por parte do O Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH). É mencionável também que, em um programa de intervenção ABA, incorporam-se fatores que o Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos considera caracterizar uma intervenção eficiente.
Ainda, segundo FOXX, o tratamento ABA exige profissionais bem qualificados, certificados por órgãos competentes para atuar como analistas do comportamento em intervenções comportamentais e experiência na prática de aplicação da referida terapia. (in . “Child and adolescent psychiatric clinics”, edição 17, 2008, pp. 821-838).
Lembrando sempre que o objetivo de nossas postagens não é defender esse ou aquele método, mas sim utilizar o espaço para que as pessoas conheçam um pouquinho mais sobre cada método. O espaço está sempre aberto aos profissionais da área e pais que queiram complementar algo! Quanto mais informação, melhor! A ideia do blog é essa, construirmos, todos nós, juntos, uma rede de informações acessíveis sobre autismo.
Seu filho fez ou faz ABA? Como foi/é sua experiência?
Espero que tenham gostado! Fiquem atentos às próximas publicações de segunda-feira para saberem mais sobre métodos de tratamento. Dia 06 de fevereiro, estaremos falando sobre TEACCH.
Um grande abraço!